Campinas: notas geográficas

Campinas (SP, Brazil): geographical references.

Antonio Carlos Cabral Carpintero – professor de urbanismo na Universidade Nacional de Brasília DF.

A cidade de Campinas situa-se, aproximadamente, a 22º 55′ de latitude Sul e 47º 05′ de longitude Oeste de Greenwich, cerca de 90 km a Noroeste da Cidade de São Paulo. Tal situação vincula geologicamente seu sítio ao Complexo Cristalino do Planalto Brasileiro, de uma forma ampla e, mais precisamente, à sua parte meridional. Campinas se situa em uma área de nítido contacto entre as formações cristalinas do Planalto Atlântico e as sedimentares da Depressão Periférica. Historicamente, esta região é denominada de Oeste Paulista, donde vale à cidade o epíteto de Princesa d’Oeste.

O município tem o seu limite a Leste fixado historicamente na Serra de Cabras, expressão do Planalto Atlântico. A Oeste, todavia, na área que corresponde ao sedimentário da Depressão Periférica, seu território original sofreu sucessivos desmembramentos.

O Planalto Atlântico alcança, no município de Campinas, os 1.100m na Serra de Cabras, constituindo-se litologicamente no complexo cristalino. A Depressão Periférica se apresenta como uma faixa arqueada com larguras que variam entre 50 e 120 km, contida, a Leste pelo Planalto Atlântico e a Oeste e Noroeste por Cuestas Basálticas. Campinas ocupa, aproximadamente, o trecho da borda Sudeste desta faixa, cujas altitudes variando entre 500 m e 700 m, configuram um relevo propício à agricultura.

Toda a região era, originariamente, coberta de Floresta Latifoliada Tropical e de Floresta Latifoliada Tropical Semi-decídua, com a presença marcante de Cerrados localizados. As referências à cobertura vegetal da região, estão, sem dúvida, contidas no primeiro nome da Freguesia, criada em 1774: Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso.

A Cidade se assenta hoje em terrenos das bacias dos Rios Capivari a Sudoeste, e Atibaia a Nordeste, esta que marca fortemente a sua história já que é nela que ocorre a fundação e o desenvolvimento por longo período.

Nascendo nas encostas do Planalto Atlântico, na Serra da Mantiqueira, próximo ao limite dos Estados de São Paulo e de Minas Gerais, o Rio Atibaia corre, como qualquer rio paulista, de Leste para Oeste. Contudo, há um trecho, de mais ou menos de 25 km, em que seu leito toma a direção de Sul para Norte, separando aí os terrenos cristalinos da Serra de Cabras, dos sedimentares. Nesse trecho, seu curso médio, o Rio corta o município de Campinas, antes de juntar-se ao Jaguari, para formar o Rio Piracicaba, e antes de desaguar no Tietê. As nascentes do Jaguari se aproximam dos afluentes do Rio Mogi-Guaçu, cujo curso, em sentido um pouco diferente (SSE-NNW) proporciona um caminho natural em direção a Goiás, torna-o particularmente significativo na estruturação da região.

O Rio Atibaia, no município de Campinas, recebe em sua margem esquerda um pequeno afluente, o Ribeirão Anhumas, que corre em geral no sentido Sul-Norte, paralelamente àquele. O Vale do Anhumas se constitui em um primeiro eixo de ocupação de terras da região, pois é em sua bacia que se localizam as primeiras sesmarias, depois algumas das grandes fazendas de café e onde se situam os bairros rurais que acabam por dar origem à cidade de Campinas.

O Anhumas é formado pelos Córregos do Serafim e do Tanquinho. Esse último nasce nas proximidades do atual Largo do Pará e corre, hoje, sob as Ruas Barão de Jaguara, César Bierrembach e Avenida Anchieta, recebendo à direita, as águas de uma nascente que se localizava em uma área originariamente pantanosa, correspondente ao atual Jardim Carlos Gomes. O do Serafim nasce no Jurumbeval, área também de brejos, que corresponde à do atual Mercado Municipal. Foi na colina entre esses dois riachos que se implantou em 1774, a capela provisória e, mais tarde, a cidade se expandiu em direção ao divisor de águas da bacia do Rio Capivari.

A ocupação do território paulista – e isso incluía muito mais do que o atual Estado de São Paulo – se fez com base em São Paulo de Piratininga. Os núcleos urbanos surgiram, grosso modo, de duas razões principais: o assentamento de novas roças e o estabelecimento de pousos e comércio ao longo dos caminhos de exploração. No século XVIII, exceto em lugares muito próximos da Vila de São Paulo, o que ocorreu, fundamentalmente, foi a segunda forma, o pouso.

As primeiras notícias de povoação na região próxima de Campinas datam do século XVII – Itu em 1610, Jundiaí em 1615, Mogi-Mirim e Mogi Guaçu, ambas no final daquele século. Estes assentamentos localizavam-se sempre muito próximos às margens dos rios. Itu do Rio Tietê; Jundiaí do Rio de mesmo nome, afluente do Tietê; Mogi Mirim e Mogi Guaçu do Rio Mogi Guaçu, além de próximas entre si. Tais localizações, as possibilidades da navegação e as condições topográficas das terras entre os Rios nos revelam o papel do Caminho de Goiás na estruturação da região, além de indicar explicações para o assentamento das primeiras roças nas Campinas do Mato Grosso, por volta de 1722.

Itu e Jundiaí consolidaram-se ainda no século XVII. A primeira foi erigida a Freguesia em 1663, e a Vila no ano seguinte; a segunda tornou-se Vila em 1655. Mogi-Guaçu e Mogi-Mirim tornaram-se Freguesias em 1740 e 1751, respectivamente, e Mogi-Mirim passou a Vila em 1769. Estas datas denotam um crescimento relacionado ao caminho das Minas de Goiás. Esse período, o final do século XVII e início do século XVIII foi, contudo, um período de tão pouca atividade nessa região que, em 1748 extinguiu-se a Capitania de São Paulo. O declínio da mineração em Goiás e nas Minas Gerais, à partir de 1760, fez com que muitas pessoas que se dedicavam à sua exploração retornassem à São Paulo, Uma das regiões que recebeu positivamente esse impacto foi o Oeste Paulista – a região de Campinas onde já se ensaiava a produção de açúcar.

A restauração da Capitania, em 1765, e o governo do Capitão General Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão – o Morgado de Mateus – deram impulso à região com uma política de incentivo à lavoura e ao povoamento. Por outro lado, a Guerra da Independência nos Estados Unidos da América do Norte, a Revolução Francesa e, quase como consequência, a revolta de escravos no Haiti, provocaram alterações no mercado mundial de açúcar, tornando rentável sua produção aqui. A cana-de-açúcar expandiu-se então na região, que experimentou um significativo crescimento econômico, especialmente a partir da última década do século XVIII.

É nesse processo que se observa a elevação de Mogi Mirim à condição de Vila, em 1769, e em 1774, a instalação de Paróquias em Piracicaba e em Campinas, esta com o nome de Nossa Senhora da Conceição das Campinas de Mato Grosso. É ainda nesse processo que, em 1797, foi constituída a Vila de São Carlos, que depois, em 1842, já com o impulso cafeeiro, passaria e ser conhecida definitivamente como Campinas.

Referência Bibliográfica:

CARPINTERO, Antonio Carlos Cabral. Momento de ruptura: as transformações do centro de Campinas na década de 1950. Campinas: CMU Publicações. (Coleção Campiniana, 8), 1996, pp.21-24.

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