Campinas: evolução histórica

Campinas, SP, Brazil: historical evolution.

Por Maria Conceição Arruda Toledo – professora, jornalista (in memoriam)Sócia fundadora do IHGG Campinas.

O livro número 19 das Publicações da Academia Campinense de Letras é um excelente trabalho de autoria de Lycurgo de Castro Santos Filho: “Campinas (evolução histórica)”, de 1969. Trata-se de uma conferência pronunciada no Curso de História de Campinas, no Centro de Ciências, Letras e Artes, mais tarde ampliada e refundida, pronunciada no Curso de História de São Paulo, no Edifício-Monumento do Pátio do Colégio, em São Paulo, justamente quando se dissertava sobre cidades históricas paulistas.

Li com atenção todo o trabalho e muita coisa aprendi sobre a história de nossa cidade e sua evolução através dos tempos. De início o autor analisa o fato de que Campinas não é, como grande número de cidades paulistas, povoação bandeirante. Daqui não partiram homens para aprisionar indígenas, nem para descobrirem ou explorarem minas.

Campinas, ao contrário, foi consequência do bandeirantismo, isto é, antigo pouso de bandeirantes, velho caminho por eles percorrido, muitos foram aqui fincando raízes, as terras penetradas e cultivadas, sendo, por fim, colonizadas e povoadas morosamente.

Os homens que aqui se estabeleceram, desde o início, dedicaram-se ao cultivo da terra, transformaram-se em agricultores, fixados definitivamente na região escolhida, alheios à exploração aurífera.

A seguir vem o relato descritivo da região onde foi formada: “terras de espessas matas entremeadas de clareiras, de pequenos campos”, pertencentes à Vila de Jundiaí, uma das poucas povoações interioranas, surgidas no século XVII, como consequência do movimento de penetração do grande sertão pelos bandeirantes que, partindo de Piratininga, demandavam às Minas Gerais dos Cataguás.

A partir do século XVIII, o povoamento passou a ser verificado com maior intensidade. Muitos dos que partiram para a região Centro-Oeste à procura de ouro, olhando as terras dos campos do mato-grosso de Jundiaí, decidiram-se pela sua colonização.

A primeira sesmaria nas paragens onde Campinas veio a ser fundada data de 1728. Daí para frente, muitas outras vêm se juntar a ela e a colonização passa a ser feita com maior rapidez, principalmente após a decisão do governo reinol de fazer doação das terras àqueles que nelas se fixasse com a finalidade de colonizá-las, fato esse que perdurou até 1850, quando o governo imperial estabeleceu que, daí para frente, só poderiam ser adquiridas terras por título de compra.

Por diversas denominações foi a princípio conhecido o núcleo que daria origem à nossa cidade: Campinas-velha, Campinas do Mato Grosso, Bairro do Mato Grosso, Nossa Senhora da Conceição de Campinas, Povoação do Mato Grosso de Jundiaí, Povoação de Campinas, São Carlos, São Carlos de Campinas, para chegar, finalmente ao nome atual: Campinas.

Um detalhe interessante focalizado por Lycurgo em seu trabalho é o que se refere ao título outorgado por Morgado de Mateus, capitão-general de São Paulo, a Francisco Barreto Leme: “fundador, administrador e diretor” da Povoação das Campinas do Mato Grosso, no distrito da Vila de Jundiaí.

Campinas pertenceu à jurisdição de Jundiaí até 1797, quando passou à categoria de Vila, adquirindo total autonomia, fato esse mais importante até que a sua elevação à cidade, em 1842. Em menos de cem anos, Campinas sobrepujou Jundiaí em crescimento, população e importância, nunca mais deixando-se alcançar por aquela cidade.

Pelo livro citado tomamos conhecimento da vida e dos cargos ocupados por diversos vultos da história de Campinas, cujos nomes emplacam ruas do meu bairro, o Jardim Guanabara: Camargo Pais, Barbosa da Cunha, Camargo Pimentel, entre outros, primeiros juízes eleitos para servirem na Vila recém-elevada.

Campinas cresceu sobre os alicerces da agricultura: primeiro, a cana de açúcar, depois, o café, e não ultrapassou só Jundiaí, como muitas outras cidades centenárias, como Taubaté, ltu, Sorocaba, Curitiba e Paranaguá, tomando-se uma das oito únicas cidades da Província de São Paulo, em 1842, quando recebeu esse título, mais como uma honraria, porque não houve nenhum acréscimo em seu território, nem maior autonomia do que a que possuía. Seu nome, no entanto, somente nos fins do século XIX e princípio do século XX, por causa do plantio do café, destacou-se a tal ponto, que muita gente se deslocava dos confins do país ou do estrangeiro a fim de visitar suas famosíssimas fazendas de café.

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Há, ainda, interessante relato da vida descolorida e vazia de acontecimentos marcantes, até meados do século XIX, tendo apenas como episódio relevante, digno de ser levado em consideração, merecedor de destaque, o Combate da Venda Grande, em 1842, entre liberais e conservadores, saindo estes últimos vencedores.

Daquele reduto de conservadores aqui sediados, surgiu o ideal republicano, do qual sobressaíram Campos Salles e Francisco Glicério, indo pela primeira vez projetar nomes campineiros no cenário nacional. Até então, conservadores e liberais só haviam exercido influência de âmbito municipal, poucos deles alçaram a órbita estadual e apenas o Marquês de Três Rios foi deputado provincial.

Já agora, os filhos dos antigos proprietários rurais, formados pelas melhores universidades, dominavam a cidade com seus ideais republicanos, levando-os à imprensa, já em fase bastante progressiva. Elegem-se para cargos de influência nacional, tirando a cidade do anonimato e escrevendo seu nome na História. A cidade, já na segunda metade do século XIX prosperava economicamente e contava com melhoramentos de suma importância. Com o advento das estradas de ferro, passou a ser mais conhecida e procurada, sua população aumentada, chegando a ultrapassar, com pouquíssima margem e por curto tempo, a de São Paulo.

Era o apogeu de uma cidade que crescera paulatinamente com o trabalho, o amor à terra, a perseverança em seus objetivos, justificando-se o orgulho dos velhos campineiros. Até que dois fatores vieram exercer funesta influência em seu destino: a Abolição, que com a vinda do braço italiano para a lavoura, foi logo superado; e a Febre Amarela, que dizimou muitas vidas, afugentando famílias que jamais daqui haviam se afastado até então. Era a desgraça tombada sobre a cidade que foi se estiolando, caindo em marasmo contristador.

Nos albores do século XX a vida calma voltara e grupos intelectuais aqui apartaram, desenvolvendo-se uma áurea fase cultural.

O tempo passou. Novos nomes se destacaram no cenário estadual, mas, só depois da segunda guerra mundial, com a chegada do capital estrangeiro e o início da industrialização, é que começa a vertiginosa ascensão que elevou Campinas a uma das maiores cidades brasileiras!

Esse, em linhas gerais, é o conteúdo do livro que Lycurgo de Castro Santos Filho publicou com o selo da ACL. Rico em dados históricos, excelente para consultas. É com obras desse teor que conheceremos os fatos relevantes vividos no passado, a origem, a evolução histórica, as lutas aqui pelejadas, pelo amor à terra e ao trabalho, para que pudéssemos chegar a merecer o alto conceito de que hoje gozamos.

Publicado na Revista do IHGG Campinas, N.2. Campinas: Komedi, 2010, pp.59-62.

2 comentários

  1. Valeu! Meus parabéns pelo resgate dos didáticos artigos da saudosa Professora Maria Conceição Arruda Toledo. Paulo E. Trani ________________________________

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