The italian immigrant trajectory to Brazil.
Romilda Aparecida Cazissi Baldin – genealogista, escritora. Titular da Cadeira 8 e vice-presidente do IHGG Campinas.
Adaremo in Mérica Vamos para América
In tel bel Brasil No seu belo Brasil
E qua i nostri siori E aqui nossos senhores
Lavorarà la terra col badil Trabalharão a terra com a enxada
Que entendeis por uma nação, Senhor Ministro?
É massa dos infelizes?
Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos o pão branco.
Cultivamos a videira, mas nunca bebemos o vinho.
Criamos animais, mas não comemos a carne.
Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos nossa Pátria?
Mas é uma Pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho.
Com este pequeno canto vêneto e com esta fala anônima de um camponês para um Ministro de Estado italiano, podemos sentir o descontentamento de nossos antepassados, para tomarem a decisão de suas vidas: deixarem a Pátria amada e procurarem um lugar, um destino melhor para eles e seus filhos.
Quando chegaram ao Brasil, depois de estabelecidos nas fazendas, passaram a escrever cartas para seus parentes na Itália. As cartas guardadas pelos familiares na Itália e as mantidas pelos imigrantes, no Brasil, passaram a ser verdadeiros testemunhos da História. Depois, por meio desses documentos e de jornais tão bem guardados em Consulados, Igrejas, Memoriais e Arquivos Históricos, no mundo inteiro, pudemos conhecer a triste história da imigração italiana em São Paulo, no Brasil e no Mundo.
Estes testemunhos nos mostram as reais condições de vida do italiano nas fazendas de café, onde desbravaram matas, plantaram, colheram, e nas cidades, onde construíram inúmeros prédios.
Durante 50 longos anos, de 1870 a 1920, a imigração italiana foi fundamental para o progresso do Estado de São Paulo. De 1870 a 1885, encontramos poucos italianos nas fazendas. Mas, pelos registros da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo, somente a partir de 1882 é que realmente começou a grande imigração. A 1ª leva de imigrantes registrados nesta hospedaria data de 17 de janeiro de 1882, com a chegada no Porto de Santos do navio Colombo, trazendo um pequeno grupo de imigrantes italianos, dentre eles meu bisavô paterno, Pietro Cazissi, com a esposa Teresa Colpani e os filhos, Ângelo, Maria e Margherita, juntamente com as famílias Signorelli e Sapelli que eram de Bergamo, no norte da Itália. Eles eram meeiros e pequenos agricultores que não se conformavam mais em plantar o trigo e não comer o pão branco, cultivar a videira e não beber o vinho… Instalaram-se na fazenda Sertãozinho, de Vicente de Souza Queiróz (neto do Barão de Limeira) em Belém de Descalvado, hoje cidade de Descalvado.
O período de 1886 a 1902 é considerado o de maior entrada de italianos, sendo famílias de predominância camponesa e de trabalhadores braçais do norte da Itália. Eles eram na maioria vênetos. Em 1901, após inúmeras denúncias, o governo italiano enviou ao Brasil um inspetor do Ministério de Assuntos Exteriores e, ao receber o relatório, o oficial tentou impedir a imigração desordenada. Com o Decreto Prinetti, assinado em 26 de março de 1902, pelo então Comissário-Geral, Luigi Ródio (sendo Prinetti, o ministro do exterior), o governo italiano proibiu a saída de italianos para o Brasil. Por esse Decreto foi suspensa a licença concedida para as companhias de navegação, que faziam o transporte gratuito ao Brasil e, também, proibiu os agentes de recrutarem imigrantes.
Mas esse documento não fez encerrar definitivamente a imigração para o Brasil, somente diminuiu as vinda dos vênetos. Então, os agentes mudaram os locais de abordagem, partindo para o Sul da Itália. Lá, as regiões escolhidas para a propaganda e o recrutamento foram: Sicilia, Basilicata, Calábria, Campânia e Abruzzo.
Acentuou-se a propaganda sobre o Brasil e existia até um guia, criado pelo Ministério da Agricultura do Estado de São Paulo, mostrando belas fotos das cidades paulistas, das fazendas cafeeiras, com ótimas casas para os colonos, de colônias de italianos nas cidades mais populosas, de igrejas, e este guia também propagava a idéia de que nenhuma pessoa podia ser impedida de viver e trabalhar aonde quisesse, não poderia ser impedida de migrar novamente, que as pessoas eram livres e que quando o trabalho era pouco na terra natal, deveriam procurar onde viver, e mesmo quem não tivesse meios próprios poderia imigrar, pois o governo paulista pagava tudo. E eles continuaram vindo…
Os navios que aportavam em Santos e no Rio de Janeiro vinham abarrotados, pois além das pessoas, continham baús, malas, tralhas e recordações da mãe-pátria. Eram sonhos, esperanças e desejos de realizações que, como bem sabemos, não foram totalmente concretizados.
No embarque, o comandante do navio fazia o imigrante passar pelo médico de bordo e se esse constatasse alguma enfermidade o viajante não embarcava. No desembarque, alguns chegavam sem nada, outros traziam utensílios de cozinha, fotografias, relíquias de família, enfim coisas que os fizessem recordar a terra natal. Como os nossos antepassados viajaram de terceira classe, eles não podiam trazer muita coisa, mas um numero grande de familiares.
Durante a travessia eram servidas três refeições ao dia, proporcionais à idade, e era uma alimentação que envolvia basicamente sopas, carnes, batatas, legumes, pão e vinho. De manhã era sempre servido café com pão ou biscoito. As refeições pareciam melhores do que as que se comiam na Itália, mas nos navios elas eram preparadas em local sem muito asseio e servidas a qualquer canto. Comia-se em cima de camas, em escadas, com o prato entre as pernas, sem muita higiene.
A temperatura dentro do navio era alta e, nos ambientes fechados, o ar era quase irrespirável. Tudo concorria para um local propício às epidemias. As crianças e os idosos eram os que mais sofriam, pois já vinham pouco nutridos da Itália e, durante as viagens era comum apresentarem baixa imunidade, sendo então estes os que mais iam a óbito. Dentre as epidemias, as mais comuns eram: pneumonia, sarampo, sarna, sífilis, tifo, tuberculose, varicela e varíola, além da malária.
O governo paulista impunha uma série de requisitos para as companhias de navegação, para o transporte do imigrante que viesse para o Estado de São Paulo, e o principal era de não receberem pessoas com doenças contagiosas, vícios, insuficiências físicas ou metais, que as impossibilitassem de trabalharem na lavoura, não transportassem mendigos, vadios, criminosos e, para aqueles com mais de 60 anos, só poderiam vir se acompanhados da família ou virem se reunir a ela em solo brasileiro.
Entre 1886 a 1920, cerca de 85% dos imigrantes que entraram no Brasil eram italianos. Em 1920, Benito Mussolini passou a controlar a imigração e obrigou os italianos a ficarem em seu país para ajudarem na reconstrução da nação, após a 1ª Grande Guerra Mundial.
Em 1934 o Governo de Getulio Vargas, proibiu a entrada de estrangeiros no Brasil, devido ao excesso de mão de obra. Após 1945, ou seja, depois da 2ª Guerra Mundial, ainda entraram no Brasil pouco mais de 106 mil italianos, encerrando assim o grande fenômeno migratório italiano para o nosso país.
Referências bibliográficas:
BALDIN, Romilda A. Cazissi. Campinas italiana: as obras e conquistas dos primeiros imigrantes italianos. Campinas: Komedi, 2013, 128p.
LONGHITANO, P. Relazioni Commerciale tra Itália e Brasile. Genova: Tip. Marzana, 1903.
Obrigado Romilda. Conhecendo um pouco mais a história da familia italiana!
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MUITO BOM!
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muito bom !!
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Gostaria de saber sobre a família Valli ou Valle, que ficaram na fazenda Boa Esperança. Angelo Valli e esposa.
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Tente nos arquivos da prefeitura ou no CMU
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