Duílio Battistoni Filho – historiador, professor aposentado de História da Arte na PUC Campinas. Titular da Cadeira 6 do IHGGC
Sendo um grande viajante, D. Pedro II, em 1876, esteve nos Estados Unidos para conhecer melhor o país. Ao desembarcar em Nova York, foi recebido com honras por uma comitiva do governo americano chefiada pelo Secretário de Estado Fish.
Saltou de boné de seda e, no atropelo da recepção, o perdeu, e a imperatriz, sua sacola. Era o primeiro monarca a visitar a América do Norte. Nos cinco dias que passou na cidade, visitou museus, colégios, jardins e clínicas, e aceitou jantares não oficiais em residências de amigos. Na ânsia de conhecer outros aspectos da vida americana, fez uma peregrinação por diversas cidades, a começar por São Francisco. O que o atraía era exatamente o que o fazia popular: a ausência de pompas exteriores, do palavreado vazio, da etiqueta e do luxo oficial.
Ao visitar Washington, a Capital, foi recebido pelo presidente Ulysses Grant, herói da Guerra de Secessão. Todavia, no seu Diário, afirma: “ele é grosseiro e de pouca fala. A mulher feia e vesga faz o possível para ser amável”. Depois da visita à Casa Branca, instalou-se no Hotel Arlington.
Em companhia do presidente Grant e do Secretário de Estado Fish, o imperador assistiu, no Capitólio, a uma sessão composta das duas câmaras. Ao visitar Nova Orleans, capital de Luisiana, o nosso imperador não teve uma impressão favorável da cidade, principalmente com relação à segregação contra os negros que ali havia e à falta de higiene de seus moradores.
De todas as cidades que visitou, foi Boston, capital de Massachusetts, a que mais lhe agradou pela beleza, elegância das casas e intensa vida intelectual. O ponto culminante de sua estada nessa cidade foi o encontro há muito tempo planejado com Longfellow, poeta de 69 anos de renome mundial e consagrado como autor de “Poems of Slavery”. Este disse que se lembrava de o haver visto antes em Paris, coisa que assombrou o imperador. Depois do almoço íntimo na residência do poeta, o imperador observou no seu Diário: “Longfellow tem uma casa bonita, com belos quadros, estátuas e bustos. Deu-me dois livros de sua livraria, passeamos bastante no jardim, fazendo-me ele muitas perguntas sobre o Brasil”. A título de curiosidade sua casa é uma construção típica do século XVIII e que se transformou em museu, tornando-se uma das relíquias da cidade. Nas suas Memórias, o poeta recorda D. Pedro como “pessoa de coração genial, nobre e muito liberal”.
Um dos momentos de grande prazer para o imperador foi a inauguração da Exposição Mundial de Filadélfia quando o Brasil se fez representar com um Pavilhão mostrando o quadro de sua população e suas riquezas naturais. Foi bastante apreciado pelo público, a ponto de o Imperador declarar: “Fizemos boa figura”. No ato, o presidente Grant ofereceu o braço à imperatriz; e D. Pedro, à Sra. Grant.
O monarca, pouco depois, teve a oportunidade de encontrar Alexander Graham Bell que estava aperfeiçoando o telefone. Entusiasmado, pediu ao cientista que fizesse uma demonstração do rudimentar instrumento. Bell pediu-lhe que ficasse a uma distância de quinhentos metros e, por intermédio de um microfone, recitou um trecho de Hamlet que o imperador escutou perfeitamente. Foi uma apoteose. Tanto é verdade que em 1880, o Brasil inaugurava a sua primeira linha telefônica. Em 1941, no Congresso Anual das Indústrias Telefônicas, o cientista Cecil W. Mackenzie lembrou em entrevista que a invenção do telefone foi grandemente facilitada pela intervenção providencial do imperador e de Graham Bell. Glória para o Brasil!
Nos festejos oficiais da comemoração do Centenário da Independência Americana houve um desfile com mais de vinte mil pessoas em Washington. D. Pedro participou ao lado do presidente Grant em carro aberto, sendo muito ovacionado pela multidão. No sentido de homenagear a nação amiga, pediu a Carlos Gomes que compusesse um hino da Independência Americana. Entretanto, o maestro compôs um hino com coro, orquestra e banda no sentido de felicitar os americanos a que deu o nome de “Saudação do Brasil”. Fato pitoresco é que na campanha presidencial, os Estados Unidos procuravam um homem à altura do general da União que fosse lúcido e liberal. Segundo o jornal “Gazeta de Washington” o nome indicado seria D. Pedro para presidente. Vejam só a importância do nosso monarca…
interessante
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