Alcides Ladislau Acosta – musicista, jornalista. Titular da Cadeira 9 do IHGG Campinas.
Resumo:
Por suas duas primeiras óperas Carlos Gomes recebeu a condecoração de Cavaleiro da Ordem da Rosa, dada pelo Imperador D. Pedro II, e uma bolsa para estudar na Itália com Lauro Rossi, professor do Conservatório de Milão. Seus primeiros trabalhos importantes na Itália foram as Revistas Se sa minga (1867) e Nella luna (1868), cujo sucesso abriu-lhe as portas do Teatro Scala de Milão. Assista aos vídeos.
The Night of Castle and Joanna de Flandres, the first Carlos’s Gomes operas. (1861-1863).
Abstract:
For his two initial operas, Carlos Gomes received the decoration of Knight of the Order of the Rose, given by Emperor D. Pedro II, and a scholarship to study in Italy with Lauro Rossi, professor at the Milan Conservatory. His first important musical works in Italy were the operetas Se sa minga (1867) and Nella luna (1868), whose success opened the doors to the Scala Theater. Watching the videos.
* * *
A noite do castelo
Ópera lírica em 3 atos, com libreto de Antônio José Fernandes, baseado no poema de Antônio Feliciano de Castilho. Dedicada ao Imperador D. Pedro II. Estreou em 4 de setembro de 1861, Teatro Lírico Fluminense, Rio de Janeiro.
A história se passa no castelo do conde Orlando, no tempo da Primeira Cruzada. A heroína Leonor é noiva de Henrique, sobrinho do conde, que teria supostamente morrido nas Cruzadas, na Terra Santa. Na noite do contrato nupcial entre Leonor e Fernando, seu novo noivo, Henrique, reaparece e promete vingança.
No início do primeiro ato, um pajem anuncia que, embora todos estejam felizes, o velho andarilho Raimundo vem contando a todos uma estranha história. Curiosos perguntam o que ele disse. Raimundo entra e na ária, Era noite alta, narra que estava sentado à porta de seu casebre, meditando, quando ouviu estranho gemido clamando por Leonor. Levantou os olhos e quase morreu de susto ao ver o fantasma do cavaleiro, numa armadura negra, rondando o castelo. O conde quer saber a identidade do estranho cavaleiro. Raimundo explica que a sua visão já não está tão boa para poder ver com clareza. Mas pensa que era o fantasma do sobrinho dele, Henrique, que segundo se sabia tinha morrido na batalha do Monte Sião. Raimundo diz que se for realmente o fantasma de Henrique, então, uma tragédia abalará a todos.
De repente, um cavaleiro trajado de armadura entra no salão. O conde quer saber quem é o desconhecido que traz o rosto coberto sob o capacete. O cavaleiro maldiz a todos, especialmente, Leonor, acusando-a de ter quebrado a promessa de amor eterno que lhe fizera. Enquanto jura vingança, o conde teme que esse cavaleiro seja mesmo o fantasma de Henrique e foge, esbaforido.
Fernando acompanha Leonor até a festa de noivado preparado para ambos. Percebe que Leonor reage de forma nervosa e inquieta. Na ária, Em Sono Plácido, Leonor conta um sonho recorrente que começa docemente, mas depois se transforma num pesadelo, onde um cavaleiro misterioso ameaça agredi-la. Fernando tenta convence-la de que tudo não passa de um sonho. Leonor continua com medo e se comporta como se visse no recinto a terrível aparição. Fernando continua a acalma-la dizendo ser tudo uma alucinação. Ouve-se o coro saudando, Viva Leonor e Viva Fernando. Ambos, então, prometem um ao outro amarem-se para sempre. Donzelas e cavalheiros se aproximam para os cumprimentos.
De repente, o cavaleiro negro reaparece. O cavaleiro diz que retornou da Terra Santa e jurou não revelar sua identidade a ninguém. Fernando lhe oferece uma taça de vinho num gesto de hospitalidade. O cavaleiro recusa e insiste que veio para se vingar. Narra que há muito tempo duas crianças tinham jurado amor eterno e após a igreja tê-los unido, o homem foi recrutado para lutar na Terra Santa. Lá, foi aprisionado pelo inimigo, mas conseguiu heroicamente fugir. Somente para voltar a casa e encontrar sua amada nos braços de outro. Todos se comovem com a história. O cavaleiro puxa uma fita azul que trazia guardada, diz que a recebeu de uma falsa que lhe tinha prometido amor eterno. Joga a fita aos pés de Leonor que desmaia. Fernando e os nobres sacam as espadas e afugentam o cavaleiro.
No ato seguinte, o estranho cavaleiro entra com seu ordenança, Roberto, a quem comanda que espere em um certo lugar. O cavaleiro canta seu amor por Leonor e diz ter sede de vingança, Oh, sim, sofri cruéis saudades. Ao escutar o som de alguém que se aproxima, esconde-se atrás de uns arbustos. Leonor e Fernando chegam. O cavaleiro então os confronta e desafia Fernando para um duelo. O cavaleiro sequestra Leonor, sendo perseguido ferozmente por Fernando. Os nobres que estão em busca do estranho cavaleiro voltam, seguidos pelo conde. Leonor retorna aterrorizada e diz ao pai que o cavaleiro matou Fernando. Em desespero, tem um surto e confunde o conde com o vingativo cavaleiro. Suplica que o conde tenha piedade dela. O coro, ao fundo, comenta que obviamente Leonor perdeu a razão, enlouqueceu.
Os nobres saem da capela, onde velavam o corpo do cavaleiro Fernando e passam a procurar o misterioso cavaleiro para matá-lo. O conde Orlando reflete em sua ária, Tu, Fernando, que adotei por filho, e conclui que era Fernando que o tinha traído e que Henrique tinha morrido na batalha, como verdadeiro cavaleiro. Diz que um cavaleiro desconhecido tinha que aparecer para acusar Leonor e Fernando da desgraça que tinham causado. O nobre entra e diz ao velho nobre que irão levar o corpo de Fernando. O conde pergunta se encontraram o assassino. Eles respondem que suas buscas foram inúteis.
A dama de companhia, Inez, tenta convencer a perturbada Leonor a ir para cama e tentar dormir um pouco. Leonor tem uma alucinação e diz ver seu marido morto. Na ária, Henrique, Henrique, ela lembra seu antigo amor de infância. Ao soar da meia-noite, a infeliz Leonor chama por Fernando e diz a Inez que ele está prestes a chegar. Inez fica perturbada. Quando Leonor ouve passos se aproximando ela corre para a porta chamando pelo nome de Fernando. Henrique entra com a espada na mão. Leonor o abraça, chamando-o de Fernando. Ele a empurra violentamente. E, finalmente, Leonor o reconhece. Inez e Leonor se abraçam aterrorizadas. Henrique acusa Leonor de traição e crueldade. Ela revela a Henrique que tinha tentado, em vão, morrer após ser informada que ele tinha morrido em Sião. Confessa que o tempo cicatrizou seu ferido coração e por isso se apaixonou novamente. Henrique, furioso, exige que se ajoelhe e suplique a Deus por piedade.
Prestes a obedecer, de repente, muda de atitude e diz que se recusa a ajoelhar-se perante qualquer um. Na sua ária, Tu que a mim desde Criança, Leonor o faz lembrar do amor que tinham durante a infância. Henrique a empurra e, enquanto Leonor declara repetidamente o seu amor, sua fúria cresce. Inez grita por ajuda; o conde e seus soldados chegam tarde. Henrique havia esfaqueado Leonor. O conde saca sua espada e fere Henrique. Então reconhece Henrique e tenta ajudá-lo a se levantar. Morrendo, o infausto cavaleiro suplica por perdão pela cegueira de seu amor. Leonor, também morrendo, suplica perdão. Ambos, reconciliados, se perdoam exalando seus últimos suspiros. O velho conde Orlando lamenta o destino fatal que reuniu aquelas infelizes criaturas. Desce o pano final.
* * *
Joanna de Flandres
Ópera lírica em 4 atos. Libreto e enredo de Salvador Mendonça. Estreou em 15 de setembro de 1863, no Teatro Lírico Fluminense (Provisório) do Rio de Janeiro. Dedicada a Francisco Manuel da Silva. Por este trabalho, o Imperador resolveu ajudar o jovem Antonio Carlos Gomes a se aperfeiçoar musicalmente na Itália.
Na vida real, Joanna da Flandres, ou Joanna de Constantinopla (c.1200? – 5 de dezembro de 1244), governou como Condessa de Flandres e de Hainaut, de 1205 até a sua morte. Ela era a filha mais velha de Balduíno IX, Conde de Flandres e de Hainaut e Imperador Latino, e de Maria de Champanhe.
A ação se desenrola no tempo das Cruzadas. Os eventos têm lugar na cidade de Lille, antiga capital de Flandres, no ano de 1225.
Balduíno é julgado perdido na Terra Santa. Durante a ausência sua filha Joanna governa. Certo dia, surge na corte um trovador, o francês Raul de Mauleon. Joanna toma-se de amores por ele, cumula-o de honrarias e com ele vive escandalosamente durante dez anos.
Ao iniciar-se a ópera, Joanna está se casando com Raul, cingindo-o com a coroa dos condes de Flandres. Todavia, os flamengos – cientes de que Balduíno não morrera e que está em Flandres disfarçado de peregrino – juram dar a própria vida para que seu líder reassuma o poder.
A corte está reunida e proclama Raul o novo senhor de Flandres, mas Balduíno aparece e se revela publicamente. Embora reconhecendo o pai, Joanna, para não perder a coroa e desgostar o amante, chama-o de impostor. O fiel Huberto de Courtray, cavaleiro flamengo e chefe dos conjurados, pede que se resolva a pendência a juízo de Deus, o que é aceito por todos da corte.
Acontece que nesse regresso Balduíno é preso e acorrentado pela desnaturada filha. No cárcere, o pai é procurado por Joanna, que propõe lhe salvar a vida caso confesse ser impostor e renuncie ao trono de Flandres. A princípio ele recusa. Mas, pensando na sorte de sua outra filha, Margarida, vacila. Margarida, no entanto, aconselha-o a não aceitar a vilania da irmã.
Entrementes, Raul, cheio de remorsos, tenta em vão interceder junto à Joanna para que não execute o pai. Ouvem-se os clarins e as aclamações do povo. Joanna pensa que é chegada a hora fatídica, mas o povo irrompe em vivas à Balduíno. Raul aproveita o instante e apunhala Joanna. Entra Balduíno com seus homens; prostra-se diante da filha morta que pretendia salvar, pois a perdoara. Nesse instante Raul exclama: não podeis salvá-la, nem puni-la – sois soberano e pai. No momento em que os nobres flamengos vão justiçá-lo, Raul apunhala-se, tombando morto.