D. Pedro II e Dona Teresa Cristina, imperador e imperatriz dos brasileiros

Norma de Lourdes Abreu Guimarães Ribeiro – professora, escritora. Sócia Emérita do IHGG Campinas.

D. Pedro II and D. Teresa Cristina, emperor and empress of brazilians

Conhecer personagens de nossa pátria, de nossos princípios, que valorizaram a formação de nosso país, de nossa história é mais do que um dever cívico. Lembramo-nos, portanto, de relatar alguns breves tópicos da vida de Dom Pedro II e da Imperatriz Dona Teresa Cristina.

O Imperador D. Pedro II

No dia 2 de dezembro de 1825, nascia no Rio de Janeiro o Imperador do Brasil, Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, D. Pedro II.

Foi proclamado imperador com a tenra idade de 5 anos porque seu pai, D. Pedro I, abdicou em seu favor e seguiu em viagem sem volta para Portugal em companhia de sua segunda esposa, D. Amélia de Leuchtenberg. Ao partir definitivamente, D. Amélia deixou uma carta aberta dirigida ao pequenino Pedro:

Não me pertences senão pelo amor que dediquei ao teu augusto pai, mas o quero como se fosses o sangue do meu sangue. Um dever sagrado me obriga a acompanhar o ex-imperador no seu exílio, através dos mares, em terras estranhas.

Também, com doçura maternal, D. Amélia dirige-se às mães brasileiras:

Mãe brasileiras, vós que sois meigas e carinhosas para com vossos filhinhos supri minhas vezes: adotai o órfão coroado, daí-lhe, todas vós, um lugar na vossa família e no vosso coração. Entregando-o a vós, sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura. (Assis Cintra, 1928, p. 254).

O pequeno imperador ficou entregue aos cuidados de José Bonifácio de Andrada e Silva, figura exponencial da cultura, da dignidade e do civismo nacional, e do marquês de Itanhaém. Instalou-se o período de governo conhecido como Regencial.

Com apenas 16 anos de idade foi finalmente coroado, no ano de 1840, e a partir daí o país passou a viver umas das fases mais progressistas de sua história. Homem de profunda cultura, alicerçada a uma educação religiosa fundamentada em inabaláveis princípios cristãos, D. Pedro II foi o exemplo de soberano para todas as nações do mundo.

O estadista inglês Gladstone assim se referiu a ele em discurso dirigido ao povo da Inglaterra:

Esse homem é um modelo para todos os soberanos do mundo, pela sua dedicação e esforços em bem cumprir seus altos deveres. É um homem de notável distinção, possuidor de raras qualidades, entre as quais, uma perseverança e uma capacidade de trabalho hercúleas. É o que chamo, senhoras e senhores, de um grande, um bom soberano, que pelo seu procedimento no alto cargo que ocupa é um exemplo e uma bênção para sua raça. (Jornal do Commercio, 2/12/1928).

O nosso imperador foi um verdadeiro liberal, incentivador das artes e da cultura, além de prestigiar a carreira de professor que considerava uma das mais importantes e nobres em suas finalidades. Via em nosso país o futuro celeiro do mundo, propiciando muitas oportunidades para a agricultura se desenvolver.

Seu avô, D. João VI, fundara o Jardim Botânico no Rio de Janeiro, D. Pedro II fundou o Instituto Agronômico de Campinas. Patrocinou os estudos de vários brasileiros no exterior, às suas expensas, talentos que se destacaram pelos dons inatos em diversos setores e que por essa razão foram galardoados pelo nosso Imperador com bolsas de estudo; entre eles, destacaram-se: Antônio Carlos Gomes (maestro), Pedro Américo e Vitor Meireles (ambos artistas plásticos).

No segundo Império o Brasil ganhou respeitabilidade das nações. Sua luta ferrenha foi contra os latifundiários retrógrados, que insistiam em manter o braço escravo. Mais tarde, esses mesmos latifundiários se uniriam aos republicanos, não para auxiliarem na libertação dos escravos, mas para vingar-se do Imperador, que paulatinamente proclamava leis que libertavam os cativos. São dessa época as Leis que proibia o tráfico de escravos, do Ventre Livre, dos Sexagenários e a famosa Lei Áurea, promulgada por sua filha Princesa Isabel, conhecida como a Redentora.

Destronado, Pedro II seguiu com a sua família para o exílio em Paris, indo residir em um modesto hotel da Cidade Luz. Lá faleceu aos 66 anos, tendo como travesseiro, para sua nobre e encanecida cabeça, um punhado de terra do Brasil, seu berço natal que ele tanto amou.

Imperatriz D. Teresa Cristina

Dona Teresa Cristina, Princesa de Bourbon-Duas Sicílias, nascida: Teresa Cristina Maria Josefa Gaspar Baltasar Melchior Januária Rosália Lúcia Francisca de Assis Isabel Francisca de Pádua Donata Bonosa Andréia de Avelino Rita Liutgarda Gertrude Venância Tadea Spiridione Roca Matilde, nasceu em Nápoles, a 14 de março de 1822.

Teresa Cristina veio para o Brasil a fim de tornar-se esposa do Imperador D. Pedro II. Era uma alma de grande sensibilidade, afeita à música e ao canto lírico. A união de ambos se transformou em laço de afeto que se projetou discreta, mas profundamente por todo o país.

A vida de D. Teresa Cristina é, segundo as acertadas palavras de Lygia Fernandes da Cunha, a história de uma princesa não favorecida de encantos físicos, mas compensada por dotes de virtudes morais que até hoje nela admiramos e que são o apanágio das grandes mulheres.

A Imperatriz sorria discretamente, possuía um olhar suave e observador. Com muito acerto, o Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, o Museu Imperial de Petrópolis, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com a colaboração do Pontifício Santuário di Pompei, homenageiam-na com a obra intitulada: Teresa Cristina Maria, a Imperatriz Silenciosa. Esse opúsculo traça seu perfil.

O casamento de Teresa e Pedro seguiu os padrões da realeza europeia. A 20 de maio de 1842 foi assinado, em Viena, o contrato de casamento entre a Princesa e o Imperador, matrimônio esse celebrado por procuração, a 30 de maio do ano seguinte. Nesse mesmo ano, D. Pedro enviou a Nápoles uma frota para trazer a Princesa, que veio acompanhada do irmão Luís, que se casaria com D. Januária, irmã do Imperador.

A 4 de setembro de 1842 desembarcou D. Teresa Cristina no Brasil, país que a acolheria durante 46 anos. Vieram com a Imperatriz, para juntar-se ao nosso povo: intelectuais, artesãos, artistas, cientistas, uma plêiade de pessoas de grande cultura e, outrossim, numerosas obras, coleções e documentos que constituíam importante patrimônio cultural.

D. Teresa Cristina assumiu seu dever de estado com seriedade. Apesar de dedicar-se com desvelo à família, acompanhava com atenção os acontecimentos políticos nacionais e internacionais, especialmente os que diziam respeito ao Império. Guardaram-se bilhetes afetuosos que ela escrevia ao esposo, quando este viajava, os quais demonstram o perfeito entrosamento em que viviam. Ela foi como alguém escreveu:

(…) o anjo inspirador de D. Pedro II, de sua doçura, da alegria de seu caráter, da pureza de seus sentimentos cristãos, o Imperador recebeu o estímulo para os mais elevados gestos de sua nobre vida. Foi a companheira assídua e afetuosa do grande soberano.

A Imperatriz deu à luz quatro filhos: duas meninas: Isabel e Leopoldina, e dois meninos: Pedro Afonso e Afonso Pedro. Nunca a serenidade da Imperatriz foi abalada pelo falecimento de seus dois filhos homens, sendo um deles primogênito, nem tampouco a abalou fisicamente a preocupação com as duas filhas, Isabel e Leopoldina; a doença do Imperador, as crises políticas e as guerras. Somente a proclamação da República e o desmoronamento do Império, além do duro destino do exílio, superaram as forças do seu sensível coração, vindo a falecer a 28 de dezembro de 1889.

Referências:

ASSIS CINTRA, Histórias que não vêm na história. São Paulo: Editora Nacional, 1928.
I.M.M.F.D. Pedro II, Jornal do Commercio, 2/12/1928, RTHGB, vol. 152-1925.
Jornal “O Porvir”, SP.

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