A contemporaneidade da Revista Sikudhani e a tradição de lutas e resistências da comunidade negra em Campinas

Christian Ribeiro – sociólogo, mestre em Urbanismo pela PUC-Campinas, doutorando em Sociologia pelo IFCH – UNICAMP. Professor de sociologia da SEDUC-SP.

Resumo: O artigo desenvolve a atuação da Revista Sikudhani enquanto periódico antirracista que se insere a um legado de lutas e resistências desenvolvidas em terras campinenses por suas populações negras ao longo dos séculos. Suas páginas representam a continuidade, a contemporaneidade dessas práticas simbólicas, políticas e a historicidade tantas vezes ignoradas, mas que construíram e deram forma à metrópole, em meio aos seus processos de enfrentamentos e oposição à herança senhorial escravocrata local e ao racismo brasileiro.

Uma revista antirracista em terras ancestrais escravocratas

Sikudhani é um nome que provém idioma suaíli, presente na região da África oriental, atualmente referente ao Quênia e a Tanzânia, cujo significado é “surpesa agradável” ou “surpresa maravilhosa”. A publicação que recebeu esse nome foi constituída em 2020 em Campinas, em meio aos processos políticos e culturais dos coletivos e representações negras que atuam direta ou indiretamente nos cotidianos da UNICAMP e aos setores socioculturais e políticos das populações afrodescendentes na cidade.

Laroyê Exú! A institucionalização da luta abolicionista e anti-racista através da imprensa tem raízes na primeira metade do século XIX no Brasil, a Revista Sikudhani nasce cerca de 200 anos depois do primeiro jornal negro aqui publicado. Mensageira, é ela quem lhe entrega os recados, quem corre as ruas, quem vai te confundir. Que bom! A Sikudhani teve uma gestação rápida, queria logo vir ao mundo para berrar. E ela nasceu, linda, escura, forte e destinada. Não deixe de olhar nos olhos dela! Filha de quem guarda as histórias, ela tem muito pra te contar. (ANANSI EDITORA, Maio/2020)

É, portanto, um periódico que se dá oriundo de um centro intelectual acadêmico, mas não necessariamente vinculado institucionalmente a algum órgão oficial. Por isso, pode ser observado enquanto resultante de uma interação entre os diferentes segmentos negros atuantes ou constituídos na universidade, com outros sujeitos políticos e representações coletivas das populações negras campinenses.

Trata-se de uma Revista assumidamente antirracista que se constituí, geograficamente, a partir de um território que abrangia o coração da fazenda de “Santa Genebra”, pertencente ao Barão Geraldo de Resende, o maior escravocrata da cidade e um dos maiores da história do país. Uma ironia sarcástica das espirais do tempo, que acabou por demarcar a ocorrência de uma ressignificação simbólica de um espaço marcado pela exclusão cidadã e da negação, enquanto centro decisório e político do regime escravagista brasileiro, do próprio sentido de humanidade das populações negras por todo país. Ela também pode ser analisada enquanto uma revista que remonta a tradição das publicações políticas e culturais de Campinas(1), em sua procura por interagir e interferir nos debates intelectuais nacionais, com a diferença que a Sikudhani é direcionada a privilegiar a publicação de autorias negras, em meio aos espaços de convivências e circulações afrobrasileiros, para dar vazão e visibilidade as percepções, saberes e reflexões da intelectualidade afrodescendente acerca de realidades que por elas são vivenciadas em “primeira pessoa”(2), e comumente ignoradas ou desvirtuadas em seus sentidos e significados pela grande mídia ou por algumas publicações acadêmicas institucionalizadas. É um periódico que objetiva a produção e a divulgação de conhecimento intelectual, cultural e político pelo ponto de vista daqueles que sofrem diretamente as consequências desse fenômeno histórico-sociológico inerente à nossa formação civilizatória. Parte, portanto, da premissa de que existe a responsabilidade de como usar o conhecimento para o pleno desenvolvimento da sociedade, nesse caso contribuindo para análise, denúncia e enfrentamento de nosso racismo estrutural.

A publicação é gerida por uma editora independente, a “Anansi Editora”,  mantida pela venda de seus exemplares diretamente pelas mídias sociais, avulsos ou por assinatura. Os exemplares de cada edição são confeccionados artesanalmente, um-a-um, de modo a remontar a própria noção da construção do saber enquanto um processo de construção coletiva, solidária. Cada edição é produzida com capas a partir de desenhos referendando matizes africanas, simbolizando o arcabouço contido em cada número da revista, como que convidando o público leitor a emergir no conjunto de saberes que lhes será apresentado enquanto representação da diversidade, pluralidade e diferentes perspectivas que formam e constituem as populações afrodescendentes que se articulam e se manifestam enquanto atores sociais e intelectuais contemporâneos.

Por estas características é uma publicação que não se preocupa em galgar padrões Lattes ou Índex avaliativos, pois sua preocupação principal é outra: a democratização étnica-racial e social dos saberes de origem afro(3), o que nos leva a vivenciar uma experiência de leitura crítica interpretativa que rompe ao nosso cotidiano intelectual, nos forçando a questionarmos o porque reproduzimos padrões de exclusão e alienação que interferem de maneira danosa aos cotidianos da maioria de nossa população. Dessa forma exerce uma ampliação em relação a própria noção de validação e reconhecimento de saberes, do que é ou não legitimado enquanto expressão ou símbolo de práxis intelectuais, comumente associadas aos setores ligados ou oriundos de nossas elites de origem aristocrática.

A Sikudhani […] é uma revista bimestral independente que surge diante da insuficiência da mídia tradicional para tratar da pauta racial. Se insere como material educativo para reivindicação de nossa herança ancestral, como veículo para a cooperação econômica entre nossa comunidade e para nossa autodeterminação. Contando com militantes, escritores, jornalistas, intelectuais e articuladores culturais produzimos uma revista antirracista que pode ser usada também como material didático, incitando discussões a partir dos textos. (ANANSI EDITORA, Maio/2020).

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Capa de edições da revista. Fonte da imagem: https://www.facebook.com/anansi.editoraindp/photos/170682404638862

Páginas contemporâneas de um legado antirracista e de resistências negras na cidade de Campinas

A revista Sikudhani também pode ser compreendida enquanto exemplo de uma tradição antirracista e pró negritude dos diferentes processos de revoltas, rebeliões e movimentos políticos e culturais das mais variadas formas e expressões que aqui tiveram origem, desde os tempos coloniais e imperiais, até a República(4). Um legado histórico de resistências ante o conjunto de relações sociais-políticas hegemônicas constituídas em uma sociedade local, líder ao processo de eugenismo e arianização executadas no país ao fim do período escravocrata, em 13 de maio de 1888, visando a constituição de uma nação “branca”, através do estimulo aos processos de imigrações europeias e miscigenação, para assim embranquecer nossa sociedade e assegurar nosso ingresso à modernidade global (RIBEIRO, 2018; 2020) e abrandarmos a nossa herança africana “selvagem e inumana” (MACIEL, 1985; RIBEIRO, 2006). Não é por acaso que o seu viés racista se faça presente aos cotidianos da cidade, até os dias de hoje. Mas é também fato que o contrário se manifesta na continuidade das lutas e reivindicações seculares, apesar de todas as adversidades e possibilidades, de homens e mulheres que não desistiram de combater e enfrentar o racismo, passando esse legado humanista de geração em geração.

[…] a cidade de Campinas é um espaço vivo da manifestação do povo de matriz Africana, cujos fragmentos urbanos, seja nas formas de uso e de manutenção de suas raízes culturais, não são vistos pela maioria da população. Essas manifestações têm como representação fundamental para sua existência o compromisso com a transmissão de saberes, salvaguarda e preservação dessa ancestralidade Africana, incluindo a luta permanente contra o racismo, discriminação e diversas intolerâncias. Nesse sentido, a herança cultural de matriz Africana, em seus saberes, valores e ritos, tem ganhado maior visibilidade por meio da luta do movimento negro, dos grupos culturais e das comunidades tradicionais de terreiro. Valorizar a riqueza dessa contribuição implicou na obrigação e na contradição de reconhecer o lugar de subalternização e estereotipia vinculado aos negros na sociedade brasileira e o compromisso com a transformação dessa realidade e de sua identidade territorial. (ALVES, 2020: s/p)

Desse modo não se compactua com a manutenção e reprodução das características elitistas, arcaicas e racistas, que dão rumos aos padrões, formais ou não, de relações sociais. A revista não nega o seu caráter de informativo científico, mas prefere por dar ênfase e destacar o seu exercício de criticidade em relação a concepção conservadora que ideologicamente se dá ao conceito de cientificidade no Brasil. O que entendemos possa explicar – através do conjunto de suas entrevistas, de seus artigos e reflexões políticas e culturais – a Sikudhani como uma publicação consciente, politizada em sua contraposição as concepções que se fazem ativamente presentes em parte dos nossos círculos intelectuais-acadêmicos.

Revela-se a contemporaneidade de uma tradição de lutas e resistências das populações negras campinenses ao longo de sua história (SILVA, 2020). Além de compreende-la como materialização simbólica da afro diáspora no Brasil, percebido na escolha de seu nome de origem Suaíli, a publicação exerce, a cada edição, a práxis dos conceitos da filosofia Ubuntu(5) do “eu sou, porque nós somos”, reafirmando os laços e saberes ancestrais de maneira coletiva, repassados de geração em geração, e do conjunto ideográfico filosófico Adinkra(6) e seu estímulo à construção e divisão de saberes entre os seus pares, a partir da preservação e valorização dos ancestrais. O processo desse periódico é um símbolo de afrobrasilidade, no sentido dele se dar como representação e práxis de diferentes expressões conceituais e filosóficas africanas – que se amalgamaram e deram origem a novas simbologias e significados de origem afro.

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Exemplos da diversiades de temas trabalhados, por várias perspectivas, presentes as edições da “Revista Sikudhani” –  (Imagens da edição de Abril de 2021/ Fonte: Arquivo Pessoal)

Considerações finais

Dessa maneira, a Sikudhani é uma revista em que uma série de saberes e potências de perspectivas tradicionalmente ignoradas dos grupos socialmente subalternizados, são colocados e debatidos de maneira pública e afirmativa, através de uma discursiva em primeira pessoa. Com rigores e esmeros que passam longe das definições simplistas e preconceituosas que classificam análises interpretativas oriundas destes grupos como “simples opiniões” ou “panfletarismo”, como se as mesmas não o fossem exemplos de intelectualidade tão válidos e significativos quanto as originadas pelos grupos socialmente dominantes.
Se essa sua particularidade epistemológica e caráter político se fará reconhecida ou validada pelos órgãos científicos oficiais avaliativos, não lhe faz – reafirmamos – em importância, pois o que objetiva, de fato, é tornar público e visibilizar as produções intelectuais do grupo étnico e social ao qual propõe representar e inserir aos debates e processos decisórios de nossa sociedade. Uma representação autônoma e libertária que não aceita mais se ver representada ou ressignificada pelos “olhos” e preceitos de “outros” – por um olhar “branco, eurocêntrico e hegemônico, sem direito ao contraditório – já definidos e rotulados de antemão enquanto inferiores e, por isso, eternamente subalternizados. Trata-se de uma práxis intelectual que permaneceu praticamente inconteste, em especial as suas vertentes de estudos afro-brasileiros e da formação histórica-social do país, até meados dos anos 1970, quando ocorreu a constituição de uma nova geração de intelectuais e ativistas negros que passam a ocupar os bancos universitários, ao disputar e politizar esses espaços de saberes e poderes de maneira coletiva, com pautas e reivindicações, com novas perspectivas metodológicas e conceitos que vão paulatinamente – através de lutas, tensões e disputas constantes – implementar modificações e inflexões ao campo intelectual-universitário nacional. As políticas educacionais de de cotas afirmativas implementadas no Brasil a partir dos anos 2000(7) é um dos momentos mais significativos desse processo político.

E a revista Sikudhani se dá como consequência direta dessa jornada, com as suas publicações representando, ao mesmo tempo, a continuidade e ampliação de seus efeitos para além das esferas públicas relacionadas ao mundo universitário-acadêmico, ao circular, interagir e inferir aos processos cotidianos de nossas relações sociais como um todo. Enquanto legado que permanece vivo e revolucionário, na contemporaneidade das populações afrocampinenses em suas incessantes práxis e jornadas antirracistas, a revista pretende contribuir para que um dia, de fato, nos tornemos realidade enquanto sociedade, enquanto nação verdadeiramente democrática, racialmente e socialmente justa e harmoniosa!

Notas

(1) Dentre esse tipo de periódico, podemos destacar a “Revista do Centro de Ciências, Letras e Artes”, fundado em 1902, e as publicações da Academia Campinense de Letras, fundada em 1956.
(2) Numa associação direta com a atuação editorial da chamada imprensa negra em Campinas, dos quais podemos destacar o periódico “O Getulino” (1923-1926) Nesse sentido, sugerimos a leitura da tese “O Getulino – um jornal de Carapinha: jornal editado por jovens negros em Campinas (1923/1925)” de autoria por GONÇALVES (2012), e acessar algumas edições do periódico, arquivadas na Hemeroteca da Biblioteca Nacional no endereço https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital)
(3) Convém salientar que existe uma busca em destacar os saberes, as vozes e sapiências das populações indígenas. Como que tornando pública uma interação entre os grupos historicamente marginalizados e segregados dos poderes decisórios da nação, visando a contraposição em conjunto, coletiva, das hegemonias intelectuais que ainda se caracterizam por posturas epistemológicas essencialmente eurocêntricas, quando buscam compreender e problematizar as complexidades e contradições sociais brasileiras.
(4) Podemos destacar os exemplos das “rebeliões e insurreições escravas”, “as rebeliões urbanas”, “a constituição dos sambas, jongos e batuques”, “a imprensa negra”, “o teatro equipe”, “o movimento hip hop”, “as escolas de samba entre os anos 1960-2000”, “ a constituição de futebol, cidadania e pertença à sociedade local, representada pela fundação e constituição da “Associação Atlética Ponte Preta”, “centro político e cultural do movimento negro no Brasil no século XX”, o movimento pró cotas nas universidades públicas.
(5) Tradicionalmente associados a partir das populações subsaarianas, em especial das populações de língua bantos, como, dentre outros, os atuais países de Angola, África do Sul, Camarões.
(6) Conceito filosófico desenvolvido pelos povos Akan da antiga Costa do Ouro, região parte ocidental africana, de países como Costa do Marfim e Togo, em que cada ideograma carrega em si e para além de si, um conjunto de valores, saberes e historicidades que são repassados, transmitidos para os membros da comunidade, da coletividade.
(7) A primeira universidade a implementar uma política pública de reparação histórica e social, foi a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que adotou um sistema de ações afirmativas em 2003, sendo que a primeira instituição de ensino federal a adotar um sistema de cotas foi a Universidade de Brasília (UnB) em 2004.

Fontes e bibliografia

O Getulino. In: https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital, aceassado em 11/06/2021.
ALVES, Geovanna Bispo. “Marcas do passado: a edificação da metrópole sobrepujando os escravizados”. Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas. 20/08/2020. In: https://ihggcampinas.org/2020/08/20/marcas-do-passado-campineiro-a-edificacao-da-metropole-sobrepujando-os-escravizados/, acessado em 11/06/2021.
ANANSI EDITORA. Sikudhani n1 DIGITAL (Maio/2020). In: https://www.facebook.com/commerce/products/4262582853758676?rt=9&referral_code=page_shop_card&ref=page_shop_tab, acessado em 11/06/2021.
ANANSI EDITORA. Projeto. (Julho/2020) In: https://www.catarse.me/revista_sikudhani_assine?ref=user_contributed&project_id=119375&project_user_id=1370313, acessado em 10/06/2021.
GONÇALVES, José Roberto. O Getulino – um jornal de Carapinha: jornal editado por jovens negros em Campinas (1923/1925). Tese (Doutorado em História) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012. In: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/12759, acessado em 11/06/2021.
MACIEL, Cleber da Silva. Discriminações raciais: negros em Campinas (1888-1926): alguns aspectos. Dissertação (Mestrado em História)-Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, São Paulo, 1985. In: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/279187, acessado em 11/06/2021.
RIBEIRO, Christian. Emicida e a hipocrisia racial brasileira em questão: “Boa Esperança” e o desconstruir rapper de “Casa Grande & Senzala”. ÁSKESIS, São Carlos – SP.  JUN-JAN, 1.n, 9.v, 2020. p. 240-265. In: https://www.revistaaskesis.ufscar.br/index.php/askesis/article/view/396, acessado em 11/06/2021.
RIBEIRO, Christian. (2018). Gilberto Gil e a reconstrução artística – política do conceito de negritude em “Refavela”. Revista Espaço Acadêmico17(202), p.97-111. In: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/37693, acessado em 11/06/2021.
RIBEIRO, Christian. O Movimento hip-hop como gerador de urbanidade: um estudo de caso sobre gestão urbana em Campinas. Dissertação (Urbanismo) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Campinas, São Paulo, 2006. In: http://tede.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br:8080/jspui/handle/tede/34, acessado em 10/06/2021.
SILVA, Lúcia Helena Oliveira. Associativismo dos negros: a Federação Paulista dos Homens de Cor (1910-1936). Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas. 17/08/2020.  In: https://ihggcampinas.org/2020/08/17/associativismo-dos-negros-a-federacao-paulista-dos-homens-de-cor-1910-1936/.

2 comentários

  1. Entre os intelectuais campineiros de sua época o Barão Geraldo de Resende, por ter vivido e estudado no Rio de Janeiro e lá assistido as festas populares, era uma dos mais abertos e favoráveis às manifestações culturais do povo negro campineiro. Ele permitia que seus escravos fizessem suas danças em dias de festa no terreiro de café, em frente à sede de sua fazenda e gostava de assistir aos cantos e danças dos negros. Convidava os seus amigos para vir assistir a essas apresentações mas os escravocratas campineiros não só não aceitavam o convite, como achavam que ele era muito estranho. Tinha uma ligação muito forte com um ex-escravo, bem idoso, que muito o ajudou, quando ele veio assumir a fazenda recebida como herança de um tio, que não tinha filhos. O velho negro, explicou a ele as especificidades da cultura cafeeira numa região muito diversa da capital do Império. Quando esse escravo faleceu, ele quis enterrá-lo no túmulo da família no Cemitério da Saudade, o que não foi aceito por seus parentes. Ele então comprou um terreno, ao lado do túmulo da família e ali enterrou o seu grande amigo. Hoje esse ex-escravo é visto como uma espécie de santo milagreiro e seu túmulo é coberto por placas, agradecendo as muitas dádivas recebidas pelos crentes em seus poderes.

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  2. A afirmação sobre o Barão Geraldo não é verdadeira e carece de provas – assim como as outras mitologias e lendas sobre fim da escravidão em Campinas. Geraldo de Rezende NÂO foi escravocrata (e também nunca foi o maior ou mais rico de Campinas) pois ao assumir a Fazenda em 1870 decidiu não mais comprar escravos e passou a contratar suiços e alemães (inicialmente) e começou a alforriar seus escravos a partir de 1880 de modo que em 1888 todos já estavam livres. Tudo isso está escrito em sua biografia de Amélia Rezende Martins. Também importante dizer que em 1870 ele recebeu as chaves da Fazenda S Genebra das mãos do capataz negro Toninho , já idoso , alforriado em 1884 que passou a ser seu cocheiro e também benzedor. Falecido em 1902,Geraldo ( que só se tornou Barão 5 meses antes do fim do Império, reforçando a possibilidade de compra do título) comprou uma cova no cemitério dos comuns para Toninho, bem distante do túmulo da família. Somente após sua morte em 1907 (por volta de 1910), Amélia e seu esposo, o médico João de Assis Lopes Martins, mandaram enterra-lo ao lado do tumulo do Barão. Onde adquiriu notoriedade e local de peregrinação. Tudo isso está registrado no Cemitério da Saudade de Campinas e no livro do historiador Warney Smith Silva e na dissertação de Vanessa Thomaz (Jornalismo Puccamp, 2020)

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