O garimpeiro da História: homenagem a José Roberto do Amaral Lapa

The historian of social poverty: tribute to José Roberto do Amaral Lapa.

Olga Rodrigues de Moraes von Simson – socióloga, professora na Unicamp. Titular da Cadeira 40 do IHGG Campinas. 

A idéia de organizar uma coletânea em homenagem a José Roberto do Amaral Lapa surgiu pouco antes dele nos comunicar, sem disfarçar sua tristeza e certa preocupação, de que em agosto daquele ano (1999) seria compulsoriamente aposentado pela UNICAMP, pelo fato de completar 70 anos de vida.

Além de reafirmarmos a necessidade e o desejo de que o professor, apesar da futura condição de mestre aposentado, continuasse exercendo as funções de coordenador de publicações do Centro de Memória – CMU (cargo que lhe trouxe bastante trabalho e muita satisfação), o incentivamos a continuar com seus projetos e pesquisas.

Amaral Lapa ampliou a equipe de jovens pesquisadores sob sua direção e graças às dissertações e teses que orientava nos últimos anos, ele passou a estar, mesmo depois de aposentado, ainda mais presente ao quotidiano do CMU, diga-se, sua obra fundamental como docente.

Tal presença obrigou a equipe do CMU a se valer de cuidados redobrados na consecução do projeto livro-homenagem, pois desejávamos, em princípio, que este fosse uma surpresa para o querido professor.

Auxiliados por sua esposa, Élide, e por seus filhos, Paulo, Fernando e Cláudia, elaboramos uma lista de colegas, alunos e amigos que foram convidados a escrever, cada um deles, os textos formadores desta coletânea. Os contatos foram realizados e, após alguns meses, chegavam às nossas mãos as primeiras produções sobre o professor, sua carreira, seu importante papel como orientador de jovens pesquisadores, dele como estimulador das produções científicas sobre a História de Campinas e do Brasil, além do amigo sincero e solícito e do pai amantíssimo que soube ser.

Sem mais nos preocuparmos tanto com a surpresa, percebemos que seria valioso dar voz ao próprio homenageado para que ele contasse a sua trajetória de professor nos mais diferentes níveis de ensino, de animador cultural, de pesquisador apaixonado, de orientador cuidadoso, além de cidadão preocupado e atuante na localização, guarda e tratamento de documentos históricos.

Assim, em fins de 1999 ele nos concedeu alguns depoimentos sobre sua trajetória. A princípio, a humildade que o caracterizava levou-o a afirmar que não valia a pena realizar tal esforço. Pouco a pouco o convencemos da importância, para as novas gerações de historiadores, em conhecer as dificuldades, barreiras e esforços necessários para o desenvolvimento de uma trajetória consciente voltada a um fazer histórico preocupado com todos os aspectos da labuta científica. Amaral Lapa não só concordou como passou a nos ajudar na elaboração do livro. A nosso pedido trouxe uma coleção de fotos antigas, já legendadas e organizadas, que reconstruíam imageticamente a sua trajetória de vida.

Seu primeiro depoimento relatava sua trajetória profissional, salientando as lutas para se constituir como professor universitário e pesquisador, sua estada na UNESP de Marília e a vinda para a UNICAMP; os esforços desenvolvidos nesta universidade para criar, com colegas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e de outros institutos e faculdades, um espaço multicisplinar privilegiado para o estudo e a pesquisa: O Centro de Memória – UNICAMP, o CMU. No segundo depoimento ele examinava detalhadamente o conjunto de imagens fotográficas e comentava saborosamente os eventos ali registrados.

Estávamos envolvidos na preparação de todo esse material e programando a última sessão de depoimento, na qual o professor discorreria sobre os anos mais recentes de sua vida acadêmica quando, subitamente, ele nos deixou no dia 19 de junho de 2000, causando tristeza incomensurável em toda a equipe.

Passado o choque profundo da perda repentina pudemos perceber, através das homenagens que ele recebeu por parte da imprensa local, como e quanto ele era querido e respeitado pelos cidadãos de sua cidade natal e de tantas outras localidades do país e do exterior. Decidimos, então, incluir no livro-homenagem uma seção voltada às produções dos cronistas campineiros enfocando o homem Amaral Lapa e seu papel na vida da cidade que o viu nascer em 4 de agosto de 1929. Outros alunos e colegas se mostraram motivados a escrever sobre ele, como que se despedindo do velho mestre e o livro foi ganhando em tamanho e densidade.

Um agradecimento especial devemos à jornalista Maria Teresa Costa, que durante anos cobriu com entusiasmo as atividades do CMU e, por isso, manteve uma relação amistosa e frutífera com Amaral Lapa. Por ocasião do falecimento do mestre e amigo, Maria Teresa publicou em Suplemento Especial do jornal Correio Popular, um artigo homenagem intitulado: O garimpeiro dos cantos e antros de Campinas. A equipe do CMU julgando que esta expressão define magistralmente a figura personificada por Amaral Lapa, de pesquisador entusiasta, persistente, profundamente envolvido, optou por utilizar o título do artigo para nomear o livro-homenagem.

Com o apoio de Paulo Celso Miceli, então diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, chegou-se à finalização e a publicação da coletânea, que esperamos possa enriquecer as homenagens a ele prestadas por ocasião da concessão póstuma do título de professor emérito da UNICAMP.

Agradeço ao Paulo Miceli, a toda equipe do CMU e as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração desta obra-homenagem construída pela somatória de muitas mãos que, entrelaçadas e movidas por respeito e amor, teceram o testemunho de uma vida de labuta e dedicação à História de Campinas e do Brasil.

Referência Bibliográfica:

SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes von (organizadora). O garimpeiro dos cantos e dos antros de Campinas: homenagem a José Roberto do Amaral Lapa. Campinas: IFCH Publicações, 2000.