O ensino remoto em tempos de pandemia

Remote teaching and classes in pandemic times.

Maria Eugênia de Lima Montes Castanho – professora de educação. Titular da Cadeira 36, cofundadora do IHGG Campinas, e

Warlen Fernandes Soares – pedagoga, professora, especialista em Psicopedagogia (PUC-CAMPNAS) e em Educação Especial (UNISAL).

A educação vem ganhando protagonismo em meio à crise de saúde pública do COVID-19. É indispensável fazer algo na área educacional face à situação. Não é difícil ver que não há uma solução ideal para este momento, seja em nossa cidade, seja no Brasil, e mesmo no mundo. Caminhamos em busca de respostas que vêm sendo construídas coletivamente.

Atualmente fala-se em Ensino Remoto Emergencial (ERE). Segundo Charles Holges et al, trata-se de uma mudança temporária para enfrentar a crise. Envolve um ensino totalmente remoto para substituir o presencial. Assim que a crise ou emergência apresentar diminuição de intensidade, voltaremos aos cursos presenciais combinados ou híbridos com o ensino remoto.

A opção para este momento vem sendo o ensino remoto. Não se trata do Ensino à distância – EAD, regulamentado por leis e decretos há décadas. O que as escolas, universidades, faculdades e institutos de ensino propõem-se realizar é o Ensino Remoto Emergencial (ERE), que se assemelha à EAD apenas no que tange ao uso de tecnologias. É uma solução provisória para a aprendizagem em momento de crise.

Está sendo feito o possível para salvar o ano letivo de 2020. De forma emergencial e com pouco tempo de planejamento e discussão, professores e gestores de escolas públicas e privadas, da educação básica à superior, procuram adaptar currículos, conteúdos e atividades. Desafio imenso. A mudança exige que os professores assumam o controle do processo de criação, desenvolvimento e implementação de cada aula. Esses professores necessitam de apoio para desenvolver habilidades a trabalhar e ensinar num ambiente online.

Diante da suspensão das atividades escolares em seu espaço físico, local ideal para a aprendizagem e para a interação, urge dialogar com as diferentes plataformas digitais e reinventar outra forma de ensinar e aprender. Não se sabe o quanto é possível que a prática pedagógica alcance qualidade e atinja o aluno no ambiente de seu lar, onde tantas outras atividades concorrem para a distração.

Uma grande preocupação é pensar sobre a forma como o ensino remoto chegará às comunidades mais carentes e à educação infantil. A UNESCO, em seu site oficial, publicou no dia 21 de abril do corrente ano: “Metade do número total de alunos (cerca de 826 milhões – mantidos fora da sala de aula pela pandemia do COVID-19), não tem acesso a um computador doméstico e 43% (706 milhões) não têm internet em casa (…)”. O estudo que trata do professor segue informando: “63 milhões de professores primários e secundários são afetados pela perturbação sem precedentes causada pela pandemia do COVID-19, com o fechamento de escolas em 191 países.

Quanto à educação infantil, uma análise documental, segundo o Movimento Interfóruns de Educação Infantil no Brasil (MIEIB) e também o Fórum Paulista de Educação Infantil (FPEI) revê a aplicabilidade de tal proposta às idades mais tenras. Há de considerar como interface o conceito de infância e a proposta interacional do currículo destinado a esta faixa etária. A proposta para a educação infantil em nosso país contempla ações culturais, artísticas, científicas, ambientais e tecnológicas promovendo o desenvolvimento integral destas crianças. Assim, faz-se necessário que tais propostas estejam alinhadas com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, visto que a interação da criança pequena no ambiente virtual é bastante passiva. Sempre é bom lembrar que, de acordo com a nossa lei de diretrizes e bases, a educação infantil é a que se destina a crianças de até cinco anos.

Tais documentos consideram que propostas permitindo a legitimação de ações educativas como educação domiciliar, ensino remoto e sistemas apostilados, dentre outras, reforçam ainda mais as desigualdades sociais e educacionais entre as crianças e suas famílias e devem ser evitadas para garantir o direito à educação de todos no Brasil.

Por outro lado, a possível necessidade de ensino remoto para as faixas etárias seguintes à infantil deve tornar-se parte das competências dos educadores. Os desafios vividos com a emergência do COVID-19 talvez criem a oportunidade para avaliar como foi vivida a experiência do ensino remoto emergencial para manter a continuidade do processo educacional. Um planejamento cuidadoso deverá levar à avaliação dos esforços, levantando pontos fortes e fracos para necessidades futuras da utilização desse tipo de ensino.

Como registrado no início deste texto, caminhamos em busca de respostas que estão sendo construídas coletivamente, o que nos faz recorrer à célebre frase do poeta espanhol Antonio Machado: “Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar”.

Referência bibliográfica:

HODGES, Charles et al. The Difference Between Emergency Remote Teaching and Online Learning. In: https://er.educause.edu/articles/2020/3/the-difference-between-emergency-remote-teaching-and-online-learning#fn1. Acessado em 20 de Março de 2020.

 

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