César Bierrenbach and the Campinas heroic years.
Luiz Carlos Ribeiro Borges – magistrado, escritor. Titular da Cadeira 3 do IHGG Campinas.
João César Bueno Bierrenbach constitui uma figura emblemática daquela época que eu e alguns outros colegas chamamos de anos heróicos de Campinas.
Descendia, pelo lado materno, de tradicional estirpe paulista, e pelo paterno, de troncos germânicos aqui aportados em 1829; o avô de César, natural de Hamburgo, integrara a comitiva da futura imperatriz, Amélia de Leuchtenberg; o pai mantinha na cidade uma fábrica de equipamentos agrícolas. Representava ele, portanto, a síntese de duas forças dominantes na cidade: a aristocracia local, que acumulava capitais com o apogeu do café, e a burguesia emergente que vinha acrescentar a sua técnica e indústria à prosperidade crescente da cidade.
Nascido em 1872, Cesar Bierrenbach estudara no Colégio Culto à Ciência e iria formar-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, já naquela tradicional instituição revelando os seus dotes de tribuno. Como tal se distinguiria em eventos como o Congresso Latino-Americano, realizado no Rio em 1903; incentivador do panamericanismo, e instado a falar por um delegado argentino (Levante-se e fale, César), prontamente redarguiu:
Levante-se e fale deverá ser o programa da América Latina. Sim, a América deve levantar-se e falar bem alto para que a Europa, o mundo inteiro saiba que, neste recanto do Universo, existe um povo que trabalha pelo Progresso, pelo bem geral da humanidade.
Saudaria, em célebre discurso, o gênio de inventor de Alberto Santos Dumont, quando de sua vinda a Campinas: sob a insígnia brasileira, netos dos nautas do Gama tripularão as frotas do ar!
Ao invento de Santos Dumont ainda dedicaria um poema, À aeronave de Dumont, em que, embora ainda preso a uma sintaxe própria das escolas literárias em voga, e que tinha o parnasianismo como linguagem oficial, a escolha da aeronave como temática poética nele confirma o escritor sintonizado com coisas e signos não apenas contemporâneos, mas que já apontam para o futuro.
Havendo militado na imprensa local, também lecionaria no Ginásio de Campinas, na cadeira de História Universal. Amigo e admirador fervoroso de Carlos Gomes, seria o batalhador incansável na tarefa de trasladar os restos mortais do maestro, falecido em Belém do Pará, para que suas cinzas repousassem na terra natal, e na de erigir o seu monumento-túmulo, seu memorial. Idealizaria o Arquivo Carlos Gomes, acervo de partituras, correspondências e toda sorte de objetos pessoais do compositor, naquilo que se converteria no atual Museu Carlos Gomes.
Sina de heróis, viria a falecer prematuramente, no Rio de Janeiro, em 1907, com apenas 35 anos de idade. Deixou, como legado, vários escritos e poemas; deixou, também, a imagem de permanente e juvenil inquietação, que talvez se possa resumir naquela primeira visão, fixada por Henrique de Barcellos, de um adolescente magro, esguio, pálido, de cabelos castanhos cortados quase rente, e que se fez notar logo pela sua extraordinária vivacidade; deixou como descendentes, segundo a oração emocionada de Cid Prado, todos os seus compatriotas, igual aos guerreiros gregos de antanho, que como ele morriam jovens. Deixou-nos, sobretudo, aquele legado sobre o qual ele próprio dissera que, jurando aos manes natais essa restauração, no alicerçar deste edifício não receei dar-lhe tão amplas dimensões, como os velhos campineiros que, num bairro de povoação, foram projetar a Matriz Nova com proporções de uma catedral em uma aldeia; deixou-nos o Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA).
Referência bibliográfica:
MAZZOLA, Gustavo e BORGES, Luiz Carlos Ribeiro. Centro de Ciências, Letras e Artes. Campinas: Komedi, 2002.
Ao conhecer a bem descrita vida de César Bierrenbach lembrei-me e relato brevemente sobre seu parente Jorge Bierrenbach de Castro que trabalhou no Instituto Agronômico de Campinas destacando-se por ser um pioneiro Engenheiro Agrônomo repórter do Suplemento Agrícola do Jornal o Estado de São Paulo. As reportagens baseadas em consultas e entrevistas juntos aos especialistas em café, citros, milho, frutíferas, hortaliças, etc.) do IAC, eram apresentadas de maneira didática, atingindo desde os mais simples agricultores da época até os Agrônomos das Casa da Lavoura (atuais Casas da Agricultura), e também os professores das escolas técnicas e das Faculdades de Agronomia. Os suplementos agrícolas publicados religiosamente todas as quartas-feiras, eram colecionados e encadernados nas diferentes bibliotecas das Instituições Agrícolas do Estado de São Paulo nas décadas de 1950;1960;1970 e 1980.
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Obrigado, Paulo Trani. Suas intervenções são sempre educativas.
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