História de empresas

Business History (Brazil).

Fernando Antônio Abrahão – historiador, pesquisador. Titular da Cadeira 11 do IHGG Campinas.

Como ramo da História Econômica, a disciplina conhecida como História de Empresas é amplamente difundida na Europa e nos Estados Unidos da América. Sua função é produzir conhecimentos sobre as organizações, os métodos de negócios, as regulamentações governamentais, as relações de trabalho e entre o trabalho e o capital, a mão de obra e a tecnologia.

A Businnes History surgiu no início do século XX por iniciativa de estudiosos que evidenciaram a importância das observações da dinâmica das empresas – idealização, criação e desenvolvimento – como organizações sociais, bem como os impactos dessas iniciativas econômicas na sociedade.

A transformação da economia mundial observada após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945) incitou a superação das peculiaridades analítica e conceitual típicas da disciplina original. Os novos estudos avançaram em direção às grandes corporações do capitalismo, com destaque para as empresas multinacionais ou transnacionais.

Em pouco tempo, porém, os estudos dos grandes sistemas empresariais evoluíram para o conhecimento amiúde dos atores empresariais – fundadores, proprietários e executivos – em agendas que passaram a integrar os perfis profissionais, as trajetórias de mobilidade social, padrões educativos e culturais e as relações destes homens e mulheres empreendedores com a sociedade. A nova transformação da Businness History destacou, pela primeira vez, os pequenos negócios e as empresas familiares.

No Brasil a disciplina tomou corpo por volta dos anos de 1960-70 e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) tem boa tradição nessa área do conhecimento, especialmente com os trabalhos de Tamás József Szmrecsányi (1936-2009), do Instituto de Economia e do Instituto de Geociências da UNICAMP. Além de ensinar e orientar seus alunos e alunas, Tamás foi coordenador da Coleção Clássicos da Inovação, da Editora da UNICAMP. Também foi entusiasta e fundador da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE) e conselheiro do Centro de Memória – UNICAMP (CMU), na gestão de José Roberto do Amaral Lapa (1929-2000).

Posteriormente, na gestão Olga Rodrigues de Moraes von Simson, a partir de 1998, os especialistas da Área de Arquivos Históricos do CMU desenvolveram a linha de pesquisa voltada especialmente para os estudos de empresas, com ênfase naquelas originadas da iniciativa e do trabalho familiar. A ementa e o plano de trabalho foram aprovados pelo Conselho Científico do CMU.

A equipe titular por mim coordenada contou com Ema Elisabete Rodrigues Camillo, mestre em História Econômica pela UNICAMP, autora do livro A indústria nascente em Campinas (Editora Mercado de Letras, 1996), e com Eliana Regina Camargo Corrêa, especialista em arquivos históricos. A cada projeto ofereciam-se estágios remunerados a alunos de diversas áreas, para as atividades de organização e digitalização de documentos, transcrição de entrevistas e o desenvolvimento do nosso Sistema Informatizado de Arquivos.

Em linhas gerais, a metodologia consiste de:

  1. identificar, reunir e organizar os documentos considerados históricos (manuscritos, impressos, fotográficos, objetos pessoais e de trabalho, audiovisuais);
  2. adaptar o nosso Sistema Informatizado de Arquivos para a indexação do acervo próprio da empresa;
  3. produzir entrevistas com os fundadores, familiares, funcionários ativos e aposentados e colaboradores;
  4. planejar o ambiente especial da empresa – Centro de Memória, Museu ou ambos – para guardar, expor e manter seu patrimônio documental;
  5. capacitar pessoal da empresa para a gestão e a manutenção do seu ambiente histórico (com manuais de procedimentos).

Projetos e resultados

Hospital Vera Cruz (fundado em 1943)

Transcorreu de 1998 a 2000. A organização do acervo histórico possibilitou a ampliação da antiga Biblioteca da Fundação Roberto Rocha Brito, com a adição de mais de 2 mil unidades documentais históricas (livros, manuscritos, fotografias e objetos). Também foram produzidos 30 depoimentos orais, gravados em pouco mais de 70 horas de mídia de áudio magnético.

Nossa pesquisa no acervo resultou no Livro: De médico para médico: buscando a atualização do conhecimento médico e a qualidade do servir a comunidade (2001). Dois produtos foram derivados da pesquisa principal: 1 – A exposição de fotos e documentos para o evento do lançamento do livro, em 2001, no Royal Palm Plaza; 2 – O Centro de Documentação Virtual do Hospital Vera Cruz, mídia de acesso digital aos documentos históricos.

Essas inovações influenciaram os gestores na criação do Museu do Hospital Vera Cruz que, em 2004, passou a ocupar lugar de destaque no ultimo pavimento do antigo edifício residencial (antigo Palácio Episcopal). O imóvel, datado da virada do século XIX para o XX, foi restaurado, está tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas e mantido em perfeitas condições pela empresa.

hvc

Restaurantes Frango Assado (fundado em 1952)

Transcorreu de 2002 a 2004. Foram identificados e catalogados 852 manuscritos e impressos, 1795 fotos, 95 objetos de museu e 13 mídias magnéticas de audiovisuais com propaganda da empresa, veiculados em rádio e televisão. A equipe também produziu 17 sessões de história oral. Os depoimentos renderam pouco mais de 30 horas de memórias gravadas em mídia magnética. Tratam de história familiar, da empresa, história do trabalho, da imigração italiana, história regional e de usos e costumes.

Nossa pesquisa no acervo resultou no Livro: Tradição de família: a história da Rede Frango Assado (Editora Prêmio, 2004). Como inovação, a empresa disponibilizou a antiga residência da família, ao lado do 1o restaurante, no Km 72,5 da via Anhanguera, em Louveira, para abrigar o Museu do Frango Assado, para onde foi depositado o acervo após minuciosa reforma para atenderem-se aos princípios da conservação e exposição de documentos escritos, imagéticos e os objetos museológicos. Também produziu-se o Museu Virtual da empresa (em mídia eletrônica) e projetos de marketing cultural.

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Escola Profissional Dom Bosco (fundado em 1946).

Transcorreu de 2002 a 2006. Além das mais de 4 mil unidades documentais do arquivo histórico da administração escolar, desde a sua fundação, em 1946, o projeto captou, identificou e catalogou outras 6 mil, entre fotografias, objetos, livros e mobiliário. A casa de morada da antiga diretora da Escola, Maria Aparecida Figueiredo, edificada no imóvel, foi transformada no Memorial Padre Carlos Henrique Neto. O Padre foi o idealizador da Escola que atendeu, inicialmente, crianças desamparadas de Poços de Caldas (MG), especialmente após a crise econômica decorrente da Segunda Guerra Mundial e da proibição da exploração dos jogos de azar, pelo presidente Eurico de Gaspar Dutra, em abril de 1946.

O Memorial Padre Carlos foi constituído de diversos acervos: biblioteca, documentação fotográfica, arquivos históricos, objetos e relatos orais, além do laboratório de conservação e preservação de documentos e livros. Ele está inserido no currículo escolar como unidade de atendimento aos alunos e de suporte técnico-científico para a produção de exposições e pesquisas. Este projeto reuniu os demais especialistas do CMU, foi dirigido por Olga von Simson e contou com a participação efetiva de Lilian de Cássia Alvisi, que também produziu um vídeo-documentário sobre a trajetória da Escola.

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EMS Indústria Farmacêutica SA (fundada em 1952)

Transcorreu de 2005 a 2007. Foram catalogados 467 manuscritos e impressos, 494 fotos, 220 objetos de museu, 530 antigas embalagens antigas de medicamentos e 415 mídias magnéticas e digitais de audiovisuais com material de propaganda da empresa, veiculados em rádio e televisão. Também foram realizadas 35 sessões de história oral com 39 depoentes, rendendo mais de 60 horas de memórias gravadas em mídias magnéticas de áudio. Os depoimentos tratam de história da família, da empresa, história do trabalho, da imigração espanhola e italiana e história regional.

O acervo organizado resultou em uma monografia histórica (distribuída entre os colaboradores, fornecedores e clientes) e na constituição do Memorial Emiliano Sanchez, composto de um Centro de Memória e o Museu sobre as origens e as principais transformações da empresa, que iniciou em uma pequena farmácia, na região do ABC Paulista. O Museu ocupa espaço de destaque na empresa e expõe as primeiras máquinas de produção industrial, o mobiliário da sala do fundador, fotografias, equipamentos e as embalagens dos principais medicamentos.

Escolas Microcamp (fundada em 1980)

O projeto transcorreu de 2006 a 2010. O Arquivo Histórico da empresa foi constituído originalmente de 1032 documentos escritos; 6600 registros fotográficos; 92 objetos museológicos e 19 mídias de divulgação e propaganda da empresa. Também produzimos 28 sessões de história oral com 31 depoentes, entre antigos colaboradores, atuais, diretores e demais funcionários. Esta atividade gerou 37 horas gravadas em mídias magnéticas de áudio.

Nossa pesquisa no acervo gerou o Museu Virtual da empresa, em mídia digital audiovisual e interativa. Todavia, o trabalho principal acabou sendo o livro: Do Basic ao TI: a trajetória de 30 anos da Microcamp, a empresa brasileira que popularizou o ensino de informática, lançado em 2010.

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Referências bibliográficas:

ABRAHÃO, Fernando Antonio. Tradição de família: a história da Rede Frango Assado. 1. ed. São Paulo: Prêmio Editorial Ltda., 2004.
CAMILLO, Ema E. R. e ABRAHÃO, Fernando A. De médico para médico: buscando a atualização do conhecimento médico e a qualidade do servir a comunidade. Campinas: CMU / Fundação Roberto Rocha Brito, 2001.
CORREA, Eliana R. C.; ABRAHÃO, Fernando A.; CAMILLO, Ema. E. R; MATTOS, Vilma de B. Do Basic ao TI: a trajetória de 30 anos da Microcamp, a empresa brasileira que popularizou o ensino de informática. 1. ed. Campinas: Microcamp, CMU, 2010.
GRAS, Norman. S. B. Questions and Answers in Business History. In: Bulletin of the Business Historical Society, V. 20, 1, Feb. 1946: 25-27. <http://www.jstor. org/stable/3110578. Acessado em 17/04/2009>.

Vídeo-documentário:

ALVISI, Lilian C. e ABRAHÃO, Fernando A. Memórias e Imagens. Escola profissional Dom Bosco – FAM, 60 anos. 2006, 60′.

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