A Guerra do Paraguai (1864-1870)

The Paraguai War (1864-1870).

Luiz Roberto Saviani Rey – professor de jornalismo da PUC – Campinas. Titular da Cadeira Nº 14 do IHGG Campinas.

A Guerra do Paraguai foi o mais longo e sangrento conflito ocorrido na América do Sul. Durou 5 anos e marcou pelo caráter de realidade enfrentada pelo Exército brasileiro, frágil e em busca de firmação. Mais do que isso, a consolidação da nossa Nação.

Na época, o Paraguai era uma nação considerada emergente, em busca de independência econômica por meio da abertura de um caminho para o mar. Localizado mais setentrionalmente entre o Sudoeste brasileiro e o Norte argentino, tinha no Rio da Prata seu principal meio de contato com o mundo exterior, mas dependia de Buenos Aires, a capital argentina – estabelecida à margem Sul do Mar del Plata – para efetivar suas operações comerciais de deslocamentos marítimos. Isso produzia embargos, sobretudo em razão da preocupação e dos incômodos que o Paraguai infringia à Inglaterra e seu reino colossal, cujos tentáculos estendiam-se de Norte a Sul no continente Americano.

A força política paraguaia atuava diplomática e politicamente com a finalidade de amenizar a dependência externa país. Já naquela época, o Paraguai produzia o que consumia e tinha uma estrutura social equilibrada, com investimentos em educação, a despeito da miséria que ainda grassava entre suas camadas inferiores. A ação reformadora fora iniciada e implementada pelo ditador Francia, desde 1830, e aprimorada pelos sucessores, Carlos Antônio López, e seu filho Francisco Solano López, que assumira o poder em 1864. Francia transformara latifúndios em fazendas estatais e diversificara a economia, distanciando-se das monoculturas agrárias. Ele também monopolizou o comércio exterior. Seus sucessores mantiveram e ampliaram essa política, cuja consequência gerou uma economia sólida e uma força militar considerável.

Todavia, no parlamento inglês erguiam-se vozes irritadas contra a ameaça da perda de hegemonia econômica do Império Britânico na América do Sul. A poderosa classe mercantil e os nobres ingleses decidiram financiar uma guerra contra o Paraguai, seus interesses de independência e a sua força militar. O Brasil e a Argentina tinham motivos para temerem a perda de territórios com uma ação militar paraguaia em busca de uma saída para o mar.

Cronologia dos Episódios

A invasão da província brasileira de Mato Grosso pelo forte exército do Paraguai, sob o comando do presidente Francisco Solano López, deflagrou o conflito. Um ataque anunciado depois dos episódios que culminaram com a intervenção armada do Brasil no Uruguai, em 1863. O presidente constitucional Atanasio Aguirre, do Partido Blanco, foi deposto e o exército brasileiro auxiliou na posse de seu rival Colorado, Venancio Flores. Solano López queria o acesso ao mar e, sem aliados, deveria enfrentar o Império Brasileiro e a República Argentina.

• Em abril de 1863, o general uruguaio Venancio Flores, do Partido Colorado, apoiado por Mitre e pelos liberais brasileiros do Rio Grande do Sul, invade o Uruguai.
• Em julho, a missão uruguaia em Assunção tenta aliança com López contra a Argentina e o Brasil.
• De setembro a novembro, o Paraguai alerta a Argentina sobre a necessidade de preservação da independência uruguaia, para não haver quebra do equilíbrio de poder na região do Prata.
• Em fevereiro de 1864, ocorre forte mobilização militar no Paraguai.
• Em março de 1864, o presidente Bernardo Berro (do Partido Blanco) renuncia no Uruguai e entrega o Poder Executivo para Atanasio Aguirre, presidente do Senado.
• Em 4 de agosto, o Império Brasileiro dirige ultimato ao governo uruguaio: pedia o cumprimento das exigências ou retaliação.
• Em 30 de agosto, o Paraguai dirige ultimato ao Brasil, exigindo a não intervenção no Uruguai, onde Solano López esperava contar com apoio.
• Em 16 de outubro, o Brasil invade o Uruguai em apoio a Venancio Flores. A Marinha do Brasil promoveu o bloqueio de Montevidéu. O governo paraguaio considerou a intervenção como um ato de guerra e decidiu por ações de resposta.
• Em 12 de novembro, o navio a vapor brasileiro Marquês de Olinda é aprisionado em Assunção. Transportava o novo governador da província de Mato Grosso e seus ocupantes morreram no calabouço.
• O Brasil responde com o corte de relações diplomáticas.
• Em 13 de dezembro, o Paraguai declara guerra ao Brasil. Solano López coloca em ação um plano de invasão da Província do Mato Grosso. A partir de 24 de dezembro, ataca em duas frentes: frota naval que destroça o Forte Coimbra; e com um contingente de terra que avança o território brasileiro até Coxim. Dias depois, terras brasileiras caem sob o domínio paraguaio.
• Seis semanas depois, o Paraguai invade e toma parte do Sul do Mato Grosso.
• 7 de janeiro de 1865: o Brasil cria os corpos de Voluntários da Pátria.
• 18 de março: o Paraguai declara guerra à Argentina e invade a província de Corrientes.
• Em março e abril, o Império brasileiro inicia suas operações de Guerra, enviando tropas ao Sul, chefiadas por Manuel Deodoro da Fonseca e cria o Corpo Expedicionário em Operação no Sul de Mato Grosso, chefiado pelo coronel Manuel Pedro Drago – as tropas da Laguna que intentam tomar o Paraguai pelo flanco norte.
• 13 de abril: paraguaios capturam a cidade de Corrientes, na Argentina.
• Em 1 de maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai formam a Tríplice Aliança, apoiados pelos ingleses. O Exército brasileiro, mal organizado e com escasso contingente, levou o Império a recorrer à Guarda Nacional e aos Voluntários da Pátria para dar corpo às suas tropas e poder enfrentar o inimigo.
• Em 1866, um desentendimento entre Uruguai e Argentina fez com que esses dois países se retirassem da Guerra e deixassem o Brasil lutando sozinho no conflito.
• No final de 1866, as tropas brasileiras foram entregues a Luiz de Lima e Silva, o Duque de Caxias, que reorganizou o exército facilitando mais vitórias, entre elas a queda da resistência paraguaia na batalha de Humaitá (seu principal ponto de defesa), seguida de outras batalhas, como Lomas Valentinas, Angosturas e Assunção, todas igualmente vitoriosas.
• Junho de 1867, soldados do Corpo Expedicionário em Operação no Mato Grosso iniciam a Retirada da Laguna.
• Em 1869, Caxias chegou a Assunção; Solano López resistiu. A resistência, porém, foi catastrófica e custaria o sacrifício de décadas de progresso e desenvolvimento.
• Em 1 de março de 1870, López foi derrotado e morto.

A paz foi estabelecida apenas em 1876, na Conferência de Buenos Aires. Ao final do conflito o Paraguai estava destruído. As terras pertencentes aos pequenos produtores foram vendidas a estrangeiros, que passavam a cobrar para que os antigos donos pudessem trabalhar nelas. O Império do Brasil, a Argentina mitrista e o Uruguai florista, aliados, derrotaram o Paraguai após mais de 5 anos de lutas, durante os quais o Império enviou cerca de 150 mil homens à guerra. Aproximadamente 60 mil morreram em combate. A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do Paraguai, tornando-o um países empobrecido devido ao decréscimo populacional, a ocupação militar por quase dez anos, os pagamentos de pesadas indenizações de guerra, e perda de praticamente 40% do território em litígio para o Brasil e a Argentina. Após a Guerra, por décadas, o Paraguai manteve-se sob a hegemonia brasileira.

Este foi o último de 4 conflitos armados internacionais, na chamada Questão do Prata, em que o Império do Brasil lutou, no século XIX, pela supremacia Sul-americana, tendo o primeiro sido a Guerra da Cisplatina, o segundo a Guerra do Prata, e o terceiro a Guerra do Uruguai.

A Guerra do Paraguai também trouxe consequências significativas para o Brasil: a popularidade de D. Pedro II caiu e a oposição aumentou com os movimentos abolicionistas e republicanos ganhando as ruas. Para consolidar a Nação Brasileira, a monarquia haveria de lidar com períodos de turbulência e conciliação, até o seu final.

Referência Bibliográfica:

REY, Luiz Roberto Saviani. (2013). O Retiro antes da Laguna: Taunay em Campinas. Campinas: Pontes Editores, 140p.

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