Preface to the: The guys of d`Onda and other guys: modernism, technique and modernity in the paulista province (1921-1925).
Berta Waldman – Professora de Hebraico do Departamento de Letras Orientais da Universidade de São Paulo.
Neste ensaio, Eustáquio Gomes confirma a adesão afetiva que nutre pela província. E a mesma afeição a reconstruir, em seu romance A febre amorosa (1984) , a vida na província de Campinas durante a epidemia de febre amarela que assolou a cidade nos idos de 1889, ano da Proclamação da República.
Nessa reconstrução revela-se o pendor historiográfico do autor, que acaba imprimindo, mesmo a sua obra ficcional, um tom de verdade. Aqui, Eustáquio recupera o sentido inicial da palavra História, devolvendo-lhe o seu enlace com a literatura, ambas empenhadas em contar alguma coisa.
E o que conta o autor neste livro: Os rapazes d`A Onda e outros rapazes: modernismo, técnica e modernidade na província paulista (1921 – 1925) ? Os primeiros passos da modernização da província na virada do século: o cinema sendo incorporado à rotina das famílias; um Fiat rolando sobre os paralelepípedos da Rua Barão de Jaguara; os pontos de encontro que se formaram nos bares e restaurantes tradicionais; os livros europeus importados pela Casa Genoud; o incremento da mão-de-obra europeia e sua fixação no mercado de trabalho; a economia agrícola e o desenvolvimento industrial; os primeiros edifícios, as primeiras linhas telefônicas, o alargamento de ruas por onde passavam, lado a lado, o carro, a jardineira e a carroça; o pintor Lasar Segall abrindo uma exposição pioneira em Campinas, nas dependências do Centro de Ciências, Letras e Artes, naquela que seria a segunda mostra de pintura moderna na América Latina.
É nesse contexto que surge a revista A Onda e, no mesmo dia, o jornal Gazeta de Campinas, palco de obscuros e, no entanto, memoráveis embates entre conservadores e vanguardistas; a palavra Futurista, além de letra impressa, servindo de mote para altas discussões.
Ao rastrear os ecos do modernismo na província, Eustáquio Gomes (1952 – 2014) – autor de: Os jogos de junho (1981), Hemingway: sete encontros com o leão (1983), A febre Amorosa (1984), Jonas Blau (1986), Ensaios mínimos (1988), Um andaluz nos trópicos (1995), O Mandarim – história da infância da Unicamp (2006), A biblioteca no porão (2009), O vale de solombra (2011), entre outros –, lança no tabuleiro de nossa historiografia peças que não existiam. Entra em cena um interlocutor periférico e desqualificado – a província – que interage em desvantagem com o desenvolvimento e os radicalismos revolucionários das metrópoles. O que resulta desse diálogo é, precisamente, o tema deste livro.
Lançado em 1992, setenta anos depois da famosa Semana de Arte Moderna, surpreende saber que antes das ideias modernistas chegarem ao Rio, ao Nordeste, a Belo Horizonte e ao Sul do país, o programa Futurista já era discutido e praticado nas pequenas cidades do interior de São Paulo, conjugado a um imperioso desejo de metropolização e cosmopolitismo da província. Esta é a história relatada neste ensaio, onde o autor tenta o fascinante exercício de erguer das cinzas os homens que falharam em seus ideais mais caros, para uma vez mais colocá-los de pé, como se fosse possível dar-lhes uma segunda oportunidade.
Referência bibliográfica:
GOMES. Eustáquio. (1992). Os rapazes d`A Onda e outros rapazes: modernismo, técnica e modernidade na província paulista (1921 – 1925). Campinas: Pontes Editores e Editora da Unicamp. 160p.
Para adquirir: http://www.ponteseditores.com.br / Livraria Pontes: Rua Dr. Quirino, 1223 – Centro, Campinas – SP, 13015-081 / fone: 19-3236-0943.