De Jânio a Bolsonaro

From Jânio Quadros to Jair Bolsonaro (presidents of Brazil).

Por Carlos Alberto Marchi de Queiroz – advogado, professor. Titular da Cadeira 43 do IHGG Campinas.

A História se repete em ciclos diferentes, costumava ensinar a professora Eclair Farhat em suas inesquecíveis aulas de História Geral e do Brasil, na década de 50 nas salas do venerável Colégio Estadual Culto à Ciência, no bairro de Botafogo, onde estudei entre 1956 e 1963.

A estrondosa, e merecida, vitória de Jair Messias Bolsonaro nas eleições de 28 de outubro do ano passado, força-me a escrever algumas linhas a respeito de alguns fatos históricos que o destino quis que eu testemunhasse, desde adolescente até agora, como eleitor, quando o inverno da vida começa a lançar neve sobre meus cabelos, antes castanho-claros.

No dia 3 de outubro de 1960, quando ainda era aluno de inesquecíveis professores como Lívio Tomás Pereira, Inácio Landel, parente do padre Landel de Moura, o verdadeiro inventor do rádio, Jacques Martins, Quinita Sampaio, Pedro Stucchi Sobrinho, Eclair Farhat, Pedrinho Biasolo, Margô Proença Gallo, Silvio Pirulito, Maria Bonjour e outros ícones do ensino secundário na cidade, o demagogo Jânio da Silva Quadros foi eleito pelo povo brasileiro com mais de seis milhões de votos.

Repetindo o discurso messiânico que vinha utilizando desde sua primeira candidatura a vereador, na Capital de São Paulo, cobrindo-se com o mesmo boné da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), vestindo o mesmo capote com a gola coberta de caspa falsa e comendo sanduíches de mortadela, repetindo, sempre, o bordão eu só tenho vinte contos, Jânio chegou à presidência da República atacando a corrupção acontecida durante a construção de Brasília, muito embora nada fosse provado contra Juscelino Kubitschek. Utilizou, durante sua campanha, como símbolo, a vassoura, que furtou do fascista Mussolini, na Itália, dizendo que seu programa eleitoral era varrer a corrupção do Brasil.

Governou durante sete meses. Renunciou deixando seu eleitorado a ver navios, menos meu saudoso pai, que votou em Adhemar Pereira de Barros, aquele mesmo do rouba mas faz, o Paulo Salim Maluf da sua época. Jânio alegou que foi derrubado por forças terríveis, que alguns chamavam de forças ocultas. Tentou proibir o uso do biquini pelas mulheres, o jogo do bicho, as odiosas brigas de galo. Na verdade, ele foi derrubado por adorar tomar litros e litros de conhecido uísque escocês, conhecido no Paraguai como Juanito Caminante. Em um de seus porres, disse que invadiria a então Guiana Holandesa. Não invadiu.

Condecorou o guerrilheiro argentino radicado em Cuba, Che Guevara, com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Deu no que deu. Renunciou no Dia do Soldado, a 25 de agosto de 1961, quase entregando o Brasil para os ávidos braços da China Comunista do presidente Liu Shaoqi, sucessor do emblemático líder revolucionário Mao Tse-tung. Mas Jânio jogou o País no colo dos militares que, sutilmente, haviam derrubado o presidente Getúlio Vargas em 1954.

Com a abertura democrática, após os supostos anos de chumbo dos governos militares, aos quais servi entre 31 de março de 1964 até 22 de fevereiro de 1967, como oficial subalterno, os brasileiros engoliram o governo do presidente José Sarney. Este serviu de mote para a messiânica campanha de Fernando Collor de Mello chegar à presidência da República, vendendo ao povo brasileiro, com apoio de uma poderosíssima rede nacional de televisão, e apregoando como programa de campanha, o combate sem tréguas aos marajás de Sarney, que estavam espalhados pelas principais empresas estatais. Collor de Mello governou de 15 de março de 1990 a 29 de dezembro de 1992. Sofreu um impeachment por corrupção provocada, em seu governo, pelo seu marajá-mor Paulo César Farias. Outro fiel escudeiro, o senador Renan Calheiros, ainda continua por aí, nos corredores do poder, reeleito pelo voto popular da pobre gente alagoana!

Depois veio Fernando Henrique Cardoso. Governo de gente elitizada, de dândis. FHC, que falava inglês com o presidente norte-americano Bill Clinton, aproveitou-se do Plano Real, posto que era ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, para chegar ao Palácio do Planalto. Fez-se passar pelo pai do Plano Real, na verdade obra do economista Gustavo Franco e seus colaboradores, descobertos pelo incorruptível e saudoso Itamar, que gostava muito de belas mulheres. Tinha direito.

Depois de FHC veio a tormenta que dizia combater as elites e que quase condenou o Brasil ao caos. Os malfeitos, ainda em apuração pela Polícia Federal, e em trâmite por varas e tribunais federais, levaram o núcleo duro da safadeza ao cárcere. Nunca antes na História deste País um ex-presidente havia sido encarcerado. Seguindo o exemplo do Peru, que mandou o ex-presidente Alberto Fujimori para as galés, a Polícia e a Justiça Federal e o Supremo Tribunal Federal fizeram com que o homem de Caetés iniciasse sua execução penal ainda no cárcere policial de Curitiba, capital do Estado do Paraná.

Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro, em sua messiânica campanha prometeu alavancar a economia, combater fortemente a corrupção, lutar sem tréguas contra a bandidagem e proteger os valores da família, sob as bênçãos de Deus. Desejemos boa sorte ao presidente.

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