Como estão, agora, os museus de Campinas?

How are Campinas museums, right now?

Por Regina Márcia Moura Tavares – antropóloga, especialista em patrimônio cultural. Titular da Cadeira 25 do IHGG Campinas.

Há exatamente 26 anos atrás, no dia 25 do mês de novembro de 1992 reuniram-se, por mim convocados na qualidade de conselheira do Conselho Municipal de Cultura através do Ofício Circular nº 393/92, os dirigentes dos seguintes Museus: Carlos Gomes, da Cidade, Constitucionalista, Dinâmico de Ciências, de Eletricidade da CPFL, de História Natural (Bosque dos Jequitibás), de História Natural (da UNICAMP), da Imagem e do Som, da Irmandade Santíssima, Parque Ecológico Monsenhor José Salim e Pinacoteca. Dois convidados de 13 justificaram a ausência, mas a significativa presença permitiu-nos preparar um relatório para o referido Conselho que refletia, efetivamente, o pensamento da área museológica da cidade de Campinas, à época; isto porque um extenso questionário havia sido entregue a todos, 15 dias antes do encontro.

A pauta da reunião incluiu quatro pontos: Caracterização geral dos museus de Campinas, Relatório de Atividades, Análise dos problemas enfrentados face à política cultural do município, Plano de metas, destacando prioridades para os quatro anos seguintes.

A análise dos três primeiros pontos de pauta evidenciou que a origem dos Museus de Campinas remonta ao início do século XX, sendo que há alguns dos anos 1940 e outros das décadas de 1960 e 80. Esse quadro apontava propostas museológicas bem diferençadas, fruto da falta de intercâmbio existente entre eles e de um contato mais constante com o que acontecia nos espaços nacionais e internacionais, relativamente à ação museal. Por outro lado, permitiu constatar que os museus de Campinas têm acervos preciosos, a saber: etnográfico, histórico, musical, artístico, natural, tecnológico, de arte-sacra, os quais, por si só, dignificariam a cidade se bem tratados, devidamente organizados e expostos. São coleções importantes para a compreensão da dinâmica cultural da cidade e da região, do Estado de São Paulo e do próprio país nos séculos XIX e XX. A dificuldade de alguns, à época, era o ecletismo dos acervos dificultando a descoberta de vocações e a definição dos perfis que passassem a orientar seus planos de ação.

Ficou evidente que os Museus de Campinas operavam muito aquém de suas potencialidades, por falta de uma política cultural municipal e estadual que reconhecesse, inclusive, o museu como um dos mais privilegiados espaços para a educação não formal, em uma era imagética, desvelando para a população sua própria identidade, condição para o exercício da cidadania.

Somente dois deles tinham museólogo em seus quadros, o que impedia uma melhor conservação e documentação do acervo, bem como uma comunicação adequada ao espaço.  O quadro de pessoal, sem exceção, era insuficiente tanto quanto ao número, como quanto à qualificação para dar sustentação às propostas, sendo que a regularidade de suas atividades ficava comprometida, sobretudo entre os controlados pela administração municipal.

Na ocasião, nenhum dos Museus tinha dotação orçamentária específica, quer fossem da área pública ou privada. Os geridos pelo poder municipal, que cobravam ingresso, ressentiam-se do não investimento dessas verbas em seus programas de ação.

Com somente duas exceções os Museus de Campinas encontravam-se em espaços inadequados, quando não completamente deteriorados, comprometendo os acervos no que tangia à conservação e à segurança. A maioria não possuía seguro das peças.

Com a dificuldade própria dos setores não estruturados, convenientemente, envidavam esforços para uma articulação permanente com a área da educação formal, sem que tais iniciativas entrassem na pauta das discussões entre as Secretarias da Cultura, da Educação e as duas Universidades existentes em Campinas.

Evidenciou-se que a rotatividade nos cargos da administração pública, o despreparo profissional dos envolvidos com a gestão da Cultura no município e a falta de um organismo que agrupasse o setor e encaminhasse seus problemas e reivindicações de forma mais sistemática vinham contribuindo para manter os Museus de Campinas alijados do que se convencionou chamar Área da Cultura em Campinas.

Diante da situação, o grupo propôs a criação de mecanismos especiais para a aplicação dos recursos do Fundo de Assistência à Cultura e do próprio orçamento da Secretaria de Cultura na recuperação, expansão, adequação e construção de espaços físicos destinados aos Museus de Campinas; também, estudos para a redistribuição dos acervos de maneira a eliminar o ecletismo e racionalizar os investimentos, criando espaços municipais para a memória etnográfica, artística, musical, tecnológica, histórica e ambiental.

A estruturação de um Centro Municipal de Restauração, equipado tecnicamente e com recursos humanos especializados nos diversos tipos de restauração e conservação de artefatos museológicos, foi proposta para o atendimento a todos os Museus, assim como Cursos de Reciclagem para administradores de museus e demais funcionários envolvidos na atividade museológica. A veiculação de um Boletim Informativo com notícias relativas às atividades de todos os Museus de Campinas, a consolidação do Banco de Dados, já em fase de implantação no Museu da Cidade, naquele momento, e um Encontro Anual dos envolvidos com a área para avaliações e propostas, foram outras sugestões apresentadas.

Depois da perda irreparável do acervo do Museu Nacional, tragédia que nos envergonhou diante do mundo, ouso perguntar: como estão agora os Museus de Campinas?

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