Discovering of discovery.
Por Irenilza de Alencar Nääs – professora da Unicamp, Unip e Florida University (EUA). Titular da Cadeira 24 do IHGG Campinas.
Quando os primeiros europeus chegaram à América Central no final do século XV e encontraram as pirâmides maias, ficaram extasiados, pois aquele tipo de estruturas-templos era conhecido no Egito e na Indochina. Curiosamente, hoje se sabe que as idades cronológicas são praticamente as mesmas.
Então, quem construiu primeiro as pirâmides? Ou elas surgiram em distintos lugares da Terra ao mesmo tempo? Muito provavelmente a segunda hipótese é a verdadeira. A inquietude humana em busca do desconhecido e a vontade de resolver problemas grandes ou corriqueiros, tende a levar aos inventos e às descobertas e, eventualmente, ao desenvolvimento das civilizações.
Quando se pergunta quem descobriu o telescópio, a grande maioria dos livros registra como Galileu Galilei (1564-1642). Entretanto, há evidências históricas de que realmente foi o alemão, naturalizado holandês, Hans Lippershey (1570-1619), fabricante de óculos, que, em 1608, tentou patentear um aparato contendo duas lentes nas extremidades, acreditando haver uso militar para aquilo, pois aproximava um objeto distante ao se olhar focando dentro daquele tubo.
Mas os ingleses têm grandes evidências históricas de que Leonard Digges (1515-1559), nascido no Reino Unido, educado na Universidade de Oxford e inventor do teodolito, por volta de 1551, tinha desenvolvido um instrumento capaz de observar os astros. Seu filho, o astrônomo inglês Thomas Digges (1546-1595), prefaciando um dos livros póstumos de seu pai, descreveu as maravilhas daquele instrumento no auxílio à observação de astros celestes e que razões políticas haviam impedido Leonard de patenteá-lo, referindo-se ao fato de seu envolvimento na rebelião inglesa de 1554, liderada pelo protestante Thomas Wyatt, o filho (1521-1554), contra a rainha Mary I (1516-1558), filha de Henrique VIII (1491-1547).
Galileu, nascido na Itália, foi o primeiro a contestar as afirmações de Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), que havia feito importantes descobertas sobre a física, dentre elas a balança hidrostática, que, posteriormente, deu origem ao relógio de pêndulo. A partir da ideia de superposição das lentes, que Galileu ouvira falar que estava acontecendo na Holanda, o brilhante inventor construiu a primeira luneta astronômica e, com ela, pôde observar a composição estrelar da Via Láctea, os satélites de Júpiter, as manchas do Sol e as fases de Vênus. Foi através da observação das fases deste planeta que Galileu passou a enxergar embasamento na visão heliocêntrica de Copérnico (1473-1543) e, por também adotar esta ideia como verdadeira, foi condenado por um tribunal da Inquisição. Em 1632, ele defendeu o sistema heliocêntrico e deu continuidade aos seus estudos.
Muitas ideias de Aristóteles foram colocadas em discussão pelas indagações de Galileu, entre elas, a de que os corpos leves e pesados caem com velocidades diferentes que, segundo descoberto cientificamente por ele, caem com a mesma velocidade, fundamentando posteriormente os trabalhos de Isaac Newton (1643-1727) na formulação da Lei da Gravitação Universal.
Já no século XX, Albert Einstein (1879-1955) redescobriu Newton e entendeu que a massa, o tempo, o espaço e a energia não são unidades absolutas, conforme descrevera Newton em sua física clássica. Contou em uma entrevista em Princeton (EUA), que, quando passava de ônibus, olhando ao longe um grande relógio em um prédio, percebeu que a velocidade com que os ponteiros giravam era observada como relativa ao seu deslocamento no veículo. Era a visão da Teoria da Relatividade.
A sorte e o acaso sempre estiveram relacionados ao sucesso das grandes descobertas. Até que a Segunda Guerra Mundial consolidou a crença na importância da ciência, não só para ganhar guerras, mas também para gerar dividendos na paz. A pesquisa científica emergiu em todos os países. Supunha-se que, com instituições científicas funcionando e educação científica adequada, todas as nações poderiam participar, em bases relativamente iguais, dos benefícios da ciência moderna.
Hoje, acredita-se que a renovação tecnológica seja o caminho do desenvolvimento. Quando a ciência se conjuga com a invenção, ou transforma a ideia inicial, multiplicam-se as possibilidades. Assim, como faziam os pais da ciência moderna no passado, hoje se procura descobrir as descobertas. A isso se dá o nome de inovação.