Why not Antônio Carlos Gomes?
Por José Alexandre dos Santos Ribeiro – linguista, professor. Titular da cadeira 34 do IHGG Campinas.
O compositor brasileiro de Campinas, Antônio Carlos Gomes (1836-1896), que viveu como as datas confirmam, 60 anos, de meados para fins do século XIX (na época do estilo conhecido como ultraromantismo), foi o primeiro compositor musical de toda a América a ter renome internacional até hoje celebrado.
Tendo lições embrionárias de música com seu pai, Manuel José Gomes, que desde 1815 morava em Campinas como Mestre de Capela, compositor e regente de música para cerimônias cívicas, bem como professor de canto lírico, Antônio Carlos Gomes estudou depois no Conservatório de Música do Rio de Janeiro imperial, onde, após estudos musicais com Francisco Manuel da Silva e o professor italiano especialista em ópera, Gioachino Gianini, formou-se com a mais alta nota do ano no Conservatório.
Esse fato fê-lo ganhador de uma bolsa de estudos para a Itália, oferecida pelo Imperador D. Pedro II, onde estudou com Lauro Rossi, obtendo, em 1869, o diploma de Maestro Compositore do Conservatório de Milão.
Em março de 1870, Il Guarany, que é sua primeira ópera produzida na Itália e cujo libreto (que é o texto a ser cantado na ópera) se baseia no romance homônimo de José de Alencar, foi um triunfo no templo universal da Ópera: o Theatro Alla Scalla de Milão. Lá ele foi fragorosamente aplaudido, inclusive por Giuseppe Verdi, o Rei da ópera italiana, que estava no teatro na noite da estreia, por sugestão do temido crítico musical da época, Filipo Filipi.
Dias depois, quando Il Guarany estreou no teatro de ópera da cidade italiana de Ferrara, Verdi lá estava para assistir ao espetáculo pela segunda vez e, entrevistado pelo jornal de Ferrara, disse, entre outras coisas, o que segue:
Vim assistir novamente, com grande e viva satisfação, a ópera do maestro Carlos Gomes, um autêntico gênio musical.
Por sua vez, o renomado Compositor, Pianista e Professor Franz Liszt, cujo nome dispensa comentários, deslocou-se de Weimar, onde então vivia, para Milão, para também assistir a Il Guarany, declarando ao jornal que o entrevistou:
Esse maestro Gomes fez entrar em Il Guarany a nova música de sua terra nas esferas das mais belas manifestações artísticas da Europa. A música é densa de amadurecimento técnico, cheia de novidades harmônicas e orquestrais, muito emotiva e deixa entrever uma terra tropical muito longínqua.
Cabe registrar, também, que cantores líricos dos mais famosos e respeitados, como Caruso, Mario Del Monaco, Beniamino Gigli, Bidu Sayão, Assis Pacheco, Lourival Braga, Niza de Castro Tank, Paulo Fortes e Fernando Teixeira têm óperas de Antônio Carlos Gomes em seus repertórios permanentes.
Após Il Guarany, Antônio Carlos Gomes compôs as óperas Fosca (1873), Salvatore Rosa (1874), Maria Tudor (1879), Lo Schiavo (1889) e Condor (1891), além do poema vocal-sinfônico Colombo (1892). Essas suas óperas vêm sendo apresentadas sempre com comprovado sucesso de público e crítica, em temporadas líricas da Europa. Em 2010, por exemplo, Salvador Rosa foi apresentada na temporada lírica daquele ano na cidade alemã de Braunshweig. Na estreia, a gravadora Recordi Internacional produziu um CD que foi distribuído para todo o mundo.
No Brasil ainda se hesita incluir as obras do seu mais famoso maestro nas parcas temporadas líricas oficiais. Por isso o título desse artigo.
Qual a razão? De qualquer forma, o fato é artístico-culturalmente inaceitável.