The chaplain role in the monsoon Brazilian expeditions.
Por Duílio Battistoni Filho – historiador, professor. Titular da Cadeira 6 do IHGG Campinas.
Um dos capítulos mais importantes da História do Brasil é aquele relacionado às Monções, expedições fluviais em demanda das minas de ouro de Cuiabá. Os monçoeiros levavam nessa empreitada tachos, pratos de estanho, cabaças de sal, rede para dormir, toalhas, almofadas, cobertores, armas de munição, machados e anzóis. Os brancos se vestiam com camisas de algodão, colete de couro forrado com este material, além do gibão que cobria o pescoço até a cintura. Os mamelucos e índios carregavam os suprimentos para a alimentação e todo tipo de material.
Os perigos das viagens e a incerteza da volta levavam muitos a redigir testamentos antes da partida. Quando alguém morria durante a expedição, era obedecido um interessante ritual. O capitão determinava que fosse feito um levantamento dos bens do falecido. Se o morto portava um testamento, ele era aberto e lido na presença de testemunhas. Quando havia viúva e órfãos, um procurador era nomeado. Após a descrição e avaliação dos bens, eles eram colocados em leilão. Aqueles que arrematavam os objetos comprometiam-se a realizar o pagamento em parcelas, muitas vezes, durante anos. Era até nomeado um fiador e as obrigações eram geralmente cumpridas.
Toda e qualquer monção levava um capelão para os trabalhos religiosos. Na partida, no Paredão de Araritaguaba (hoje, Porto Feliz) havia a cerimônia da benção das canoas, quando o padre implorava para os navegantes a mesma proteção divina, outrora dispensada a Noé sobre as águas do Dilúvio ou ao apóstolo Pedro sobre as do mar. A seguir, rezava-se a ladainha de Nossa Senhora em altas vozes e a santa comunhão era ministrada. Nesse instante, todas as medidas eram tomadas para a salvação do corpo e da alma, porque à frente, só nas minas, seriam encontrados igreja e sacramento.
As viagens, sempre muito perigosas, os monçoeiros constantemente entoavam ladainhas e cânticos, pedindo aos céus as bênçãos e proteção para todos. Os padres sofriam os horrores das viagens, fazendo o papel de confessor e às vezes, de soldado, como aconteceu com João Vellez, da monção do ouvidor Lanhas Peixoto que, sobrevivendo ao ataque dos índios paiaguás, regressara para as minas levando a notícia da desgraça. Em carta dirigida a Diogo Soares, chefe de uma monção, em 1730, o capelão Domingos Lourenço Araújo, relata: “…dos que escaparam nas sete ou oito canoas, deve-se destacar a bravura do padre Vellez que resistiu bravamente ao ataque dos selvícolas”.
Ao chegar ao destino cabia ao capelão proceder ao batismo das crianças nascidas durante a viagem. O capelão Timóteo da monção do Iguatemi, no dia 13 de junho, dia de Santo Antônio na capelinha desse local, munido de uma gamela de pau, batizou cinco crianças. Com a proximidade da morte de um moribundo, o capelão estava sempre presente para confessá-lo e dar a extrema unção. Como vemos, a religião estava profundamente arraigada entre esses homens de coragem.
Prof. Duilio ,seus textos sao ricos de informações numa narrativa clara e atraente.Parabens !
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Prof Duilio, seu texto sobre Monções onde voce relata , com maestria,o dia a dia dos valentes desbravadores do interior nos reporta ao assunto Bandeirantes e a conquista do sertao . Muitos detalhes ,alguns desconhecidos,enriqueceram a narrativa.Mais uma vez Parabens…… Em qui, 1 de fev de 2018 às 10:07, Instituto Histórico, Geográfico e
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Muito interessante o texto que Duílio Batistoni nos enviou, via IHGG. Fez me lembrar de uma pesquisa em equipe, realizada há algum tempo, sobre a Expedição Langsdorff, acontecida na primeira metade do século XIX (1822 a 1829) e liderada por esse cientista alemão (o Barão Georg Heinrich von Langsdorff). Ela foi financiada pelo governo russo que estava interessado nos recursos naturais e nas riquezas minerais do nosso país. Os diários, por ele redigidos durante as suas viagens pelo Brasil, ficaram perdidos entre os acervos da .Academia de Ciências Russa, em São Petersburgo, por quase cem anos e sómente foram reencontrados no século XX (1930), pelo pesquisador Boris Komissarov, que então procurou cientistas e entidades científicas brasileiras para traduzir, organizar e publicar o material redigido pelo barão alemão. O Centro de Memória da UNICAMP foi uma das instituições participantes dessa grande pesquisa que reuniu estudiosos russos, alemães e brasileiros.
Antes de realizar sua segunda e mais importante expedição no Brasil, o barão von Langsdorff ficou um bom tempo entre Campinas e Itú, estudando qual seria a melhor maneira de penetrar no sertão brasileiro e acabou optando pelo modelo das monções, mandando então confeccionar os batelões que adentraram o Rio Tietê na altura de Porto Feliz. Com ele, nessa viagem fluvial pelos rios Tietê, Paraná e Pardo chegando até o norte de Mato Grosso e finalmente ao Pará, viajaram outros cientistas como Hercules Florence, Riedel e o jovem Taunay. Este último, infelizmente morreu afogado, ao tentar atravessar a nado um rio norte de Mato Grosso. Langsdorfff foi picado por mosquitos e sofreu fortes ataques de febre, que acabaram por abalar o seu juízo, tendo Florence assumido a redação dos diários da expedição. Esta, alcançando Belém do Pará, retornou ao Rio de Janeiro, via rota marítima. Os registros e todo o material coletado durante a viagem, foram enviados para a Rússia, lá ficando esquecidos durante muitas décadas.Com a mencionada pesquisa os diários foram traduzidos e publicado nos anos 90, estando acessíveis aos interessados via Associação Internacional de Estudos Langsdorff,Casa de Oswaldo Cruz e Editora Fiocruz. Em Campinas os vários volumes dos diários podem ser consultados na Biblioteca do Centro de Memória da UNICAMP.
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