Os arraiais do ouro e suas curiosas denominações

The Gold Mining places and their curious names (Minas Gerais, Brazil).

Por Júlio Mariano Júnior (in memoriam) – professor e jornalista. Sócio fundador do IHGG Campinas.

Escrevíamos, em 1986, sobre povoados e arraiais dos séculos XVII e XVIII, quando tratávamos um pouco da história do direito administrativo brasileiro e, na ocasião, fomos levados à toponímia de lugares dessas épocas, principalmente dos lugares que surgiram na região das minas. Em breves comentários, fizemos algumas referências aos arraiais do ouro, como foram chamados e como segue.

Um artigo de velha Lei Orgânica dos Municípios do Estado de São Paulo proibia que novos municípios adotassem nomes de localidades já existentes em nosso país, além do emprego de datas e, também, de nomes de pessoas vivas e de denominações com mais de três palavras, não consideradas as partículas.

Essa regra jurídica de proibição de estranhos ou inconvenientes topônimos foi reiterada nas Leis Orgânicas dos Municípios de nosso estado desde 1947, o que nos levou a uma releitura dos historiadores das Minas Gerais e do primeiro surto de fundação de povoados, a partir dos últimos decênios do século XVII.

Nessa época, a avidez pelas pedras preciosas ou pelos metais nobres concentrou-se nos sertões e nas matas das capitanias de baixo, do Espírito Santo para o sul, mas rumo ao Oeste, para a região central do Brasil.

Entre 1681 e 1694, provavelmente, Duarte Nunes, um pardo que estivera faiscando em Paranaguá ou Curitiba, descobriu a região do ouro preto ou ouro podre, nas margens do riacho Tripuí. Nessa região, em pouco tempo, formaram-se dezenas de arraiais, pequenas povoações de reunião espontânea dos sertanistas e cativos, ou de criação deliberada pelos capitães dessas entradas nas terras que passaram a ter a denominação de Minas Gerais.

Numa dessas entradas para atingir Sabarabuçu – a Grande Pedra Luzente –, comandada por Fernão Dias Paes, correram sete anos (1674-1681) e durante todo esse tempo, em uma empresa de desbravamento de matas, de abertura de caminhos e formação de roças, oficialmente, procuravam-se as pedras preciosas. Depois, descobertos os ribeiros auríficos, passaram os paulistas a formarem os primeiros núcleos de população das Minas Gerais, pequenos povoados ou arraiais que, no século XVIII, se tornariam vilas e cidades opulentas.

Um dos famosos arraiais das Minas foi o de Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão do Carmo, nome do povoado junto ao ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, lugar em que o taubateano João Lopes de Lima descobriu em 1698. Esse arraial se tornou, em 8 de abril de 1711, a Vila Real do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, a primeira das vilas de Minas Gerais e que, bem depois, seria a cidade e município de Mariana, também a primeira capital da capitania da Minas.

Na região do Ouro Preto, em pouco tempo formaram-se muitos arraiais, reunião de casebres e capelas em montes e nas margens dos riachos, e foram eles denominados espontânea e saborosamente: Caquende, Ouro Fino, Ouro Bueno, Ouro Podre, Bom Sucesso, Passa Dez, Botafogo, Três Cruzes etc. Outras vezes, havendo capelão junto dos sertanistas, os cuidados espirituais levavam a darem-se nomes de santos a esses povoados, como houve um Arraial de São Sebastião e um Arraial de Sant’Ana.

O arraial com o nome de Ouro Preto com outro arraial próximo, denominado de Antônio Dias, depois de reunidos oficialmente, tornaram-se a Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar e Albuquerque, a riquíssima Vila Rica de Ouro Preto, já em 8 de julho de 1711.

Outro sertanista de São Paulo, participante das entradas de Fernão Dias, sendo capitão do grupo desbravador avançado que preparava caminho e roças para o grosso dos homens a chegarem depois, Matias Cardoso de Albuquerque criou a Roça Grande de São Pedro do Paraopeba e, ainda, a Roça Grande do Rio das Velhas.

Pela Serra do Sabará ou do Sabarabuçu e na margem do rio Sabará, afluente do rio das Velhas, estiveram outros sertanistas, como Francisco Rodrigo Penteado e Manuel da Borba Gato. Nessa outra região apareceu o Arraial da Barra do Sabará, povoado de intenso comércio, lugar de abundante ouro encontrado em seus córregos e rios. Em 17 de julho de 1711, o Arraial da Barra do Sabará tornava-se a Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará.

Várias denominações de povoados e lugarejos, de antanho, muitas saborosas de se ouvir, muito decorrentes de nossa cultura da época, como as de Arraial ou Freguesia do Tijuco, do Taquaral, das Congonhas do Campo ou, ainda, Santo Antônio da Mouraria do Arraial Velho, São Sebastião dos Macacos, Santa Rita do Rio Acima, Curral del Rei, Tapanhuacanga, Córrego Seco ou Soca-e-Quebra. Todos esses topônimos, repetimos, deveriam ter sido evitados ou seriam frontalmente proibidos se as Minas Gerais optassem pelas normas e Leis de nomeação de localidades paulistas. Nesse sentido, ganhou a criatividade, a religiosidade e a cultura frente a padronização das leis.

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