Antônio Carlos de Moraes Salles.
Por Duílio Battistoni Filho – historiador, professor. Titular da Cadeira 6 do IHGG Campinas.
Moraes Salles, nome de uma tradicional avenida de Campinas, nasceu nesta cidade a 27 de julho de 1846 foi batizado juntamente com Francisco Glicério à mesma hora, na Matriz Velha, hoje Basílica do Carmo. Foram seus pais Reginaldo Antônio de Moraes Salles e Antonia Joaquina de Camargo.
Fez seus estudos fundamentais num internato de São Paulo e se preparou para ingressar na Faculdade de Direito, do Largo de São Francisco onde se formou em 1866. Aos 24 anos, casou-se com sua prima de terceiro grau, Ana Eufrozina do Amaral Salles. O casal teve nove filhos.
Moraes Salles iniciou sua carreira jurídica no Fórum de Campinas como promotor público por quatro anos, introduzindo nos debates forenses o hábito de exposições claras e precisas, sempre despidas de adjetivos. Foi no exercício da advocacia que ele conquistou, firmou e dilatou sua reputação, principalmente em questões de terra. Em 1880, exerceu o cargo de Juiz Municipal, quando se preocupou com o desenvolvimento urbano, obras públicas, propriedade, assistência social e proteção ao trabalho.
Sua preocupação com a saúde pública era tamanha que estava sempre nomeando médicos para prestar assistência aos pobres e necessitados. Zelava para que o abastecimento de gêneros alimentícios se fizesse com regularidade, tomando providências sensatas para garantir o fornecimento de mercadorias à população, mormente em tempos de carestia. Tomou uma série de medidas para evitar desordens e excessos nas diversões.
Homem de rara compostura, falando pausadamente, com decisões firmes, Moraes Salles muito trabalhou pela sua terra, como na criação da Colônia do Funil, chamada depois de Núcleo Campos Salles, hoje Cosmópolis, numa tentativa de solucionar os males da imigração subvencionada. A verdade é que essa Colônia chegou a reunir setenta famílias de suíços, alemães e brasileiros. Cresceu de tal forma que, em 1899, foi estabelecida uma linha férrea, chamada Funilense, ligando esse núcleo populacional a Campinas, numa extensão de 43 quilômetros.
A municipalidade de Campinas, no intuito de facilitar a marcha da companhia, permitiu que sua estação férrea inicial Carlos Botelho se localizasse junto ao Mercado Municipal, de linhas mouriscas, ainda em construção e somente inaugurado em 1908. A essa estação chegavam as marias fumaças trazendo sacas de açúcar (mascavo), café, arroz, feijão e frangos. Os mantimentos eram vendidos na cidade e o excedente levado por via férrea até Santos e depois embarcados para a Europa.
Interessante observar que a Funilense ensejou o aparecimento de modestas estaçõezinhas que se transmudaram em verdadeiras cidades como Barão Geraldo, José Paulino (Hoje Paulinia) e Arthur Nogueira. Moraes Salles foi um dos fundadores da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, em 1875, assumindo depois a presidência, cujo objetivo era capturar para a economia paulista, grande parte do sul de Minas Gerais. Muito importantes foram suas obras filantrópicas na cidade.
Por muitos anos dedicou e sem interrupção grande parte de seu trabalho, principalmente no estudo e solução dos problemas da Santa Casa de Misericórdia da cidade, defendendo seu patrimônio. Para tanto, organizava quermesses cuja renda era revertida para melhorar as condições do prédio e ampliação das dependências do Asilo de Órfãs para irmãs e doentes. Muito ligado à colônia portuguesa, ele foi nomeado Vice-cônsul de Portugal no Brasil para atender os interesses lusos no país. Deve-se ressaltar que ele nunca saiu do país e não se popularizou por nenhum trabalho científico ou literário. Sua modéstia era tanta que não quis conquistar nenhum cargo politico. Entretanto, foi um profundo observador dos costumes da sociedade. Faleceu em 1903, aos 57 anos e sua morte repercutiu em Campinas e no País, quando a cidade parou e o comércio fechou suas portas.