Guilherme de Almeida – the prince journalist
Por Odair Leitão Alonso – jornalista, escritor. Titular da Cadeira 5 do IHGG Campinas.
Quando criança acompanhava minha mãe ao Cemitério da Saudade. Perdi meu pai aos sete anos de idade e, toda semana, invariavelmente, visitava seu túmulo. Mas, meus olhos curiosos de menino se detinham no Monumento Túmulo dos Voluntários de 32.
Ficava extasiado, ao ler aquelas palavras, maravilhosas:
Não é túmulo! É berço! É sementeira
De ideal; baliza do futuro; pista.
Rastro de heróis na terra campineira.
Sobre eles, cor a cor, lista por lista,
Eternizou seu voo essa bandeira,
Petrificou-se o pavilhão paulista.
Bandeirantes por vós, nesta jazida,
Velam as pedras, que esta morte é vida.
Mal sabia que esse encantamento, que as palavras de um jornalista, o poeta Guilherme de Almeida, me tocariam tão fundo que fariam de mim, também um jornalista, cunhado nos ideais desse ícone das letras.
Guilherme de Almeida nasceu em Campinas, em 24 de julho de 1890, filho de Estêvão de Andrade Almeida, renomado advogado e de dona Angelina de Andrade Almeida. Foi batizado em Limeira, onde sua família se refugiou em virtude da terrível epidemia de febre amarela que quase dizimou a cidade de Campinas, conforme nos relata com precisão o confrade do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, Jorge Alves de Lima, em seus livros “O Ovo da Serpente” e “O Retorno da Serpente”.
Guilherme de Almeida cursou o primário em Rio Claro. O ginasial, parcialmente no Culto à Ciência em Campinas e, no Colégio São Bento na Capital. Também estudou no Diocesano São José, em Pouso Alegre, Minas, e Nossa Senhora do Carmo em São Paulo, onde recebeu o Diploma de Bacharel em Ciências Letras e Artes em 1907.
Estudou Direito no Largo São Francisco, formando-se em 1912. Mas já em 1904 escreveu seus primeiros versos. No periódico “11 de Agosto”, na Faculdade, sob o pseudônimo de Guidal, teve a emoção de ver impressa, pela primeira vez, uma poesia sua, “Eucalyptus”, inspirada nos tempos em que residiu em Campinas, Rio Claro e Araras. Integrou o Grupo d’O Pirralho – Semanário irreverente de Oswald de Andrade, onde publicou seus primeiros poemas.
Imprensa
Em 1916 ingressou para valer na imprensa da qual nunca mais se afastou, trabalhando na redação de O Estado de São Paulo. Ali travou estreito conhecimento com Amadeu Amaral que o animou a publicar seu primeiro livro de versos: “Nós”.
Em 1922 participou da Semana de Arte Moderna, fundando depois a revista Klaxon e seguiu difundindo os preceitos do modernismo.
Nessa época passou a editar o “Carnet Social” seção dedicada a divulgação de aniversários, casamentos, festas e outros acontecimentos e fatos da sociedade paulista. Até 1928, quando fazia a coluna social, agora intitulada “Sociedade”, ele injetou sua prosa nos textos do jornal.

Em 1923 casou-se com Baby Barrozo do Amaral e passou a residir no Rio de Janeiro, cidade dela, até 1925. Mas, em 26 voltou a São Paulo e reingressou no “Estadão” a convite de Júlio de Mesquita. Inaugurou uma nova era no jornalismo nacional: a de crítico de cinema. A partir de 1927, na Coluna Cinematógraphos ele escreve sobre “Cidadão Kane”de Orson Wells e “Encouraçado Potemkin”, de Einsenstein. Ele assinava a coluna simplesmente como “G”. A crônica social ele fez até 1942, sob o pseudônimo de Guy.
Guilherme de Almeida engajou-se com entusiasmo na Revolução de 32, tanto no período conspirativo, como depois, como soldado raso do Batalhão da Liga de Defesa Paulista, que combateu em Cunha. Foi preso e exilado. Viajando pela Europa, preferiu Portugal, onde se sentiu acolhido, tendo sido recebido na Academia das Ciências de Lisboa. Vale voltar um pouco no tempo e lembrar que ele ingressou, em 1928, na Academia Paulista de Letras e em 1930 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Guilherme de Almeida foi presidente da Associação Paulista de Imprensa no biênio 1937/39. Foi diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite de 1943 a 1945. Fundador e Diretor do Jornal de São Paulo de 1945 a 1947. Presidiu a Comissão dos Festejos do IV Centenário de São Paulo. Foi redator do Diário de São Paulo de 1947 a 1957. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Mas sempre retornava ao jornal que tanto amava “O Estado de São Paulo”. É autor da maravilhosa “Canção do Expedicionário”, que incentivou nossos pracinhas e orgulhou toda nação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Foi eleito em 16 de setembro de 1959, o Príncipe dos Poetas Brasileiros.
Guilherme de Almeida faleceu em 11 de julho de 1969. Sua obra literária é composta por mais de 60 volumes, entre poesias, traduções, prosa e literatura infantil.
Como jornalista, duas colunas, merecem citação especial: “Eco ao Longo dos Meus Passos” no Estadão, misturando poesia, crônicas e contos, com enorme sucesso; e “Sombra Amiga”, onde Guilherme de Almeida revela toda sua humildade, seu carinho para com os leitores. Vejam um trecho:
“De hoje em diante, todos os dias, neste cantinho, desta página de jornal, o olhar casual, que aqui pousar, aqui há de encontrar a calma repousante de uma sombra amiga. Sombra mesmo…sombra apenas…É quase nada. É só uma sombra, sim, mas amiga”.
Imaginem! A sombra amiga do genial Guilherme de Almeida. Jornalista sim.

Maravilhoso o texto deste, também grande, jornalista Odair Alonso!!
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Grato pelo apoio e carinho. O resgate de nossa história é fundamental na educação dos jovens.
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