History of the Proença neighborhood (Campinas, SP, Brazil).
Por Duílio Battistoni Filho – historiador, professor. Titular da Cadeira 6 do IHGG Campinas.
Estudar um bairro é vivê-lo. Fixar residência em algum lugar, escolher a cidade, o bairro, no bairro a rua e nesta a casa, é depositar em um espaço desde então privilegiado o conjunto das exigências vitais, das simpatias e antipatias, dos valores de que o homem é portador. Bairro é introdução à cidade. Representa para seu morador, o conjunto dos itinerários percorridos a partir de uma casa. É o lugar do conhecimento mútuo: cada qual é conhecido num certo número de particularidades de sua vida privada por pessoas que não são parentes e que, no entanto, não são estranhas – os vizinhos. A proximidade espacial cria um conhecimento pelo menos aproximativo: quem não é conhecido parece um intruso. Cada morador do bairro aufere certo proveito dessa vizinhança desde que pague o devido preço. Ele recebe pequenas gratificações dos outros como sorrisos, saudações, cumprimentos, troca de palavras que dão a sensação de existir, de ser conhecido, apreciado, estimado. Foi pensando nessas palavras que comecei a pesquisar o Bairro Proença.
Conta-se que Antonio Manoel Proença (1833-1905), comerciante em Santos, tornou-se proprietário, a partir de 1867, da fazenda Chácara Paraiso, herdada de sua mãe. Muito conceituado em Campinas, foi um dos fundadores da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e um dos responsáveis da construção do Teatro São Carlos e do Hospital Irmãos Penteado. Ao falecer deixou aos seus familiares, em partes separadas, lotes da propriedade. Um dos beneficiários e inventariante foi seu genro Tito Joaquim de Lemos.
A escritura de compra e venda foi lavrada a 17 de junho de 1908. Na realidade, Tito tornou-se o maior herdeiro em relação aos demais, visto que chegara a comprar a parte de um deles e que viria a ser a “Chácara do Proença”. Quanto aos herdeiros restantes transformaram-se em pequenos proprietários, chegando a vender seus lotes para terceiros fragmentando, deste modo, seus domínios anteriormente registrados. Com a planta desenhada em 1880 por Antonio Francisco de Paula Souza, um dos herdeiros, ficou definido o primeiro arruamento de sua propriedade. Um dos beneficiados foi o neto de Tito, Arlindo Joaquim de Lemos que ficou com o espigão chamado “Chácara das Campinas Velhas”. Uma picada em direção ao centro da cidade receberia o nome de Rua Proença, mais tarde alargada graças ao prefeito Euclydes Vieira com aportes significativos de dinheiro público. O córrego do Proença foi retificado e drenado no trecho do prolongamento da rua Proença e a ponte da Chácara da Barra, numa extensão de 2300 metros.
Em 1944 a propriedade de Arlindo Joaquim de Lemos seria loteada pela Companhia Imobiliária Campineira e transformada em bairro com o nome de “Jardim Proença”. A área de 300 mil metros quadrados seria retalhada em pequenos lotes, todos eles para construções residenciais e vendidos a longo prazo e a preços de alcance de modestas bolsas. Parte do terreno foi o local em que está situado o Estádio Brinco de Ouro da Princesa do Guarani Futebol Clube. Com isso estava realizada a parte meridional do anel perimetral externo em direção da avenida Ângelo Simões, desenhado por Prestes Maia no seu famoso plano de 1938. Em 1966 a Sociedade Imobiliária Vila Lemos Ltda. representando Arlindo Joaquim de Lemos, vende a quadra principal do loteamento contendo a antiga sede da fazenda de café, tulha principal e parte da senzala. Construída no auge da economia açucareira entre 1790 e 1795 é a mais antiga edificação particular preservada em área urbana. O ex-prefeito Antonio da Costa Santos adquiriu a propriedade em 1978 e viveu ali até ser assassinado em 2001. Localizada na avenida Arlindo Joaquim de Lemos foi tombada pelo Condepacc e pelo Condephaat, em 1990.
Ponto de referência do bairro é a Igreja de Nossa Senhora Aparecida que congrega os fieis da santa. Este templo atrai fieis que ultrapassam os limites do bairro, realizando vários trabalhos voltados para a comunidade, como o Projeto Reciclar, que além de ajudar o meio ambiente oferece oportunidades de trabalho e renda às famílias carentes. A proximidade do Jardim Proença com a região central e às principais vias de acesso ao município, como as rodovias D. Pedro I e Anhanguera, faz do bairro uma das áreas mais atraentes da cidade. É um local aprazível quase dentro do Centro.
Duílio: belo artigo sobre o Proença. Como sempre, é o melhor historiador de Campinas e sobre Campinas. Parabéns, confrade da ACL e do IHGGC. Sérgio Castanho
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Muito bom esse histórico! Alguem
tem registro historico do bairro chamado Jardim Tofanello, antigo “furazoio”?
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Ótima história do bairro Jardim Proença, não morei na minha infância mas convivi muito nesse bairro com famílias amigas, recentemente morei um ano e meio aí mas mudei para o Taquaral..Mas sigo tudo do Proença tenho amigos e muito carinho por esse bairro.
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Muito bom, gratidão!!!
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